a dureza da materialidade do corpo contra a dureza da materialidade do que é imenso

grão, partícula

parte de um todo imensurável

a onda quebrando na rocha, estrondo, enorme, e a gente de tudo frágil.

frágil de força e de tamanho.

embora tudo pareça às vezes tão enorme dentro do peito.

 

queijô, queijô!

bolinho de bacalhau, o azeite é galo!

 

o amor da companhia

o amor dos gestos

a bola que vai do homem pra criança

numa sucessão doce de

riso

queda

água

chute

e tudo de novo

observa

e torce pra que o menino guarde um pedaço da ternura enorme desse momento no peito pra sempre

você, meio alheia de tudo,

guardará nas retinas deslumbradas

o brilho do sol das quatro da tarde

no mar, na areia

no homem, no menino

naquele momento de ternura transbordante

que quase transbordou teus olhos

 

cuzcuzzzzzz ó o cuzcuz!

espetinhôh, ó o espetinhôh!

 

juntas

mesa de bar

mochila canga

lado a lado

sabe-se lá quanto tempo

suficiente pra que uma levante

vá até o mar

entrando devagar

enquanto a outra

da mesa

sentada

com o cigarro e isqueiro repousados na sua frente

a acompanhe desde o primeiro segundo de afastamento

com os olhos

ternos

acompanhando

ternos

a outra indo

se banhando

volta

juntas de novo

amor calmo

como o mar nesse dia

onda quebrando baixinho na areia

rastro sutil do horizonte infindo

 

olha o mátê!!

amendoim, amigo?

 

a vontade de que o imenso caiba

a tentativa de construir com pedaço da coisa toda algo que

pra ti

tenha um significado mais palpável

a areia transbordando do balde

a menina sentada

concentrada

na beira da praia

empenhada a encher o balde

com aquilo de imensidão que suporta tudo ao seu redor

e que

humilde

até cabe um pouco no balde

mas é tão

tão

tão

maior

tentativa de conter

o que escorre pelos dedos e pelas bordas

incontrolável e desmedido

 

 

 


Créditos na imagem de capa: acervo pessoal de Ana Conrado Ferreira Rocha