A ocupação do território do atual estado de Minas Gerais, pelos portugueses, se deu através da interiorização da colonização na América. Nesse sentido, o processo de interiorização em questão pode ser entendido pelo avanço da pecuária, mas sobretudo pela descoberta do ouro pelos sertanistas paulistas no final do século XVII. A extração de ouro condicionou uma série de mudanças profundas em todo o território colonizado, mas afetou principalmente as estruturas físicas e sociais da região de Minas Gerais, abrangendo as cidades de Ouro Preto e Mariana, que precisaram passar por um processo complexo de sedimentação.
A atividade mineradora gerou uma grande expansão demográfica na região de Minas Gerais, atraindo principalmente jovens europeus e escravizados ameríndios e africanos para realizarem as atividades voltadas à extração de ouro em si e à agropecuária existente na região, como as plantações e a criação de gado. Em pouco tempo, houve um aumento populacional significativo em Minas Gerais, que se destacou como eixo colonial no século XVIII. É possível observar, nesse sentido, que Vila Rica, atual Ouro Preto, se tornou um dos focos coloniais mais populosos. Isso significa que a existência de ouro e o interesse pela sua exploração tornaram Minas Gerais o centro socioeconômico da colonização da América Portuguesa, chamando atenção para a formação desse espaço.
Como supracitado, a extração de ouro não era a única atividade econômica desenvolvida na região mineira, tendo em vista a presença da agropecuária. Nota-se, portanto, que a agropecuária, abrangendo a criação de gado e as plantações, se destacaram na movimentação do mercado interno, visando o autoconsumo e o suporte à atividade nuclear, isto é, a mineração. À vista disso, evidencia-se o desenvolvimento da produção agrícola e pastoril voltada para os núcleos mineradores, possibilitando seu funcionamento. (GUIMARÃES; FERNANDES, 2018)
Sabe-se que a interiorização da colonização portuguesa se dá através da apropriação de conhecimentos indígenas sobre o território, sendo, nesse caso, feita principalmente pelos sertanistas paulistas. Não muito distante desse processo de apropriação referido, é possível observar que as primeiras técnicas de extração mineral são de origem africana, praticadas pelos escravizados que foram levados para a região mineira. Com o desenvolvimento das técnicas mais avançadas, como a atividades em encostas, nota-se a degradação ambiental cada vez mais profunda, à medida que as técnicas vão avançando.
A princípio, a atividade mineradora se iniciou com a utilização de técnicas menos complexas, já que grande parte do ouro encontrado tratava-se de depósitos de aluvião, nas margens de rios, como o Ribeirão do Carmo, em Mariana/MG. No entanto, com o passar do tempo, a extração de ouro passou a exigir técnicas mais avançadas, pois as atividades precisaram se deslocar para os veios auríferos, os depósitos das montanhas e os fragmentos rochosos (SOBREIRA, 2014). Vê-se que a exploração de ouro realizada nas encostas exigia, além de maiores conhecimentos, maior investimento, como o aumento da mão-de-obra escravizada.
Todavia, qualquer técnica que tenha sido utilizada, da mais simples a mais complexa, foi responsável por transformar o espaço natural da região, principalmente no que diz respeito à paisagem, ao solo e aos recursos hidrográficos. A realização das atividades supracitadas resultou na modificação da paisagem da região, evidenciando o impacto da atividade humana sobre o espaço natural. Frederico Sobreira (2014), nesse sentido, descreve alguns impactos causados pela mineração colonial nas cidades de Ouro Preto e Mariana:
Os reflexos destas atividades atingiram não só os locais de extração do material, mas todo o curso do ribeirão do Carmo e a jusante de Ouro Preto e Mariana, que recebeu um volume inestimável de sedimentos gerados pelas atividades extrativas nas suas cabeceiras. (SOBREIRA, 2014, p. 56)
Tendo em vista todas essas questões, como a ocupação desordenada, a modificação do espaço físico, o crescimento populacional e o deslocamento do eixo socioeconômico de forma geral para a região de Minas Gerais, a Coroa Portuguesa necessitou da adoção de medidas de sedimentação da sociedade mineira. Sob essa perspectiva, nota-se que as principais formas de avanço das estruturas administrativas coloniais eram o uso da violência e os instrumentos fiscais. No entanto, evidencia-se que a organização do espaço urbano também foi uma maneira que o Estado Português utilizou para ordenar o território de Minas Gerais.
É possível observar, portanto, que as primeiras ocupações coloniais mineiras se deram a partir da fixação das atividades e do comércio estabelecido pela exploração aurífera. A princípio, as primeiras ocupações na região de Minas Gerais, como Mariana e Ouro Preto, se estabeleceram nas margens dos rios, onde o ouro era extraído por aluvião, de forma mais simples. No entanto, com o avanço das técnicas de mineração para as encostas, as ocupações migraram para esses locais, acompanhando o desenvolvimento da mineração, evidenciando a formação de arraiais.
Nesse sentido, devido à importância conquistada por Minas Gerais como eixo socioeconômico por causa da extração de ouro, a elevação de determinados conjuntos de arraiais para vilas está diretamente relacionada à instituição da sociedade colonial portuguesa. Nesse sentido, é relevante destacar que essa determinação estava associada ao cenário político, especificamente pela ocupação política no território mineiro devido à sua importância no cenário socioeconômico em questão. A partir da formação desses lugares, como a atual Mariana, nota-se a necessidade da instalação de estruturas administrativas, como a Casa da Câmara e a Cadeia, que passaram a exigir normas para construção do espaço urbano.
À vista disso, é possível observar que o intenso processo de extração mineral na região de Minas Gerais, sobretudo em Ouro Preto, influenciou e gerou grandes transformações no território. Uma de suas consequências foi a instalação de configurações administrativas de todos os segmentos, como a questão social e tributária. No entanto, faz-se necessária a análise das alterações dos ambientes físicos afetados por essa atividade, principalmente no que diz respeito ao espaço ambiental, bem como as paisagens e a construção do espaço urbano a partir da intensificação da mineração.
Depreende-se, portanto, que a corrida pela extração mineral, principalmente de ouro, ao longo do século XVIII, desencadeou a modificação da vegetação natural presente em Minas Gerais, evidenciando o avanço da degradação ambiental promovida pela colonização para o interior do Brasil. Essa corrida, então, tem como consequência a degradação irreversível da Mata Atlântica, que inclusive pode ser observada atualmente. Na região de Ouro Preto, que se destacou como eixo socioeconômico, é possível observar os impactos da abusiva extração mineral na Serra de Ouro Preto, por exemplo, e em diversos bairros da cidade onde haviam minas. Essas transformações foram imprescindíveis para ordenar o espaço urbano colonial, bem como os locais de ocupação pioneira, que carregam fortes traços da mineração colonial até os dias atuais.
REFERÊNCIAS
SOBREIRA, Frederico. Mineração do ouro no período colonial: alterações paisagísticas antrópicas na serra de Ouro Preto, Minas Gerais. Quaternary and Environmental Geosciences, v. 5, n. 1, 2014.
GUIMARÃES, Carlos Magno; FERNANDES DE MORAIS, Camila. Mineração, degradação ambiental e arqueologia: Minas Gerais, Brasil século XVIII. Memoria americana, v. 26, n. 2, 2018.
Créditos da imagem: Johann Moritz Rugendas, 1835.
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