Documentos auto-bio-ficcionais de terror da vida real
A poucas horas do Natal, estava eu diante daquela grande lagoa com minha pequena mala de uma mão que segurava as chaves de uma casa que não era mais minha. Apesar de ter decorrido 15 anos desde a última vez que lá estive dessa maneira, aos 15 anos, eu estava lá da mesma maneira que neste 15 anos atrás: impossibilitada de estar em casa.
Foram poucas horas de um sentimento que, para bem e para mal, não pode ser contado pelo relógio. Desterro e exílio. Expulsão e orfandade. Indiferença e divindade. Sentimento de mãos vazias de passado e cheias de um futuro inapreensível.
O tempo destes acontecimentos é o do calendário, do novo calendário que inaugura-se a partir deles. O novo tempo do mundo. De tudo. O tempo como nos legou Walter Benjamin nas teses XV e XVI sobre o conceito de História, um “dispositivo de concentração do tempo histórico” (BENJAMIN, 2012). “Um presente que não é passagem, mas no qual o tempo se fixou e parou” (BENJAMIN, 2012). O antes de Jesus Cristo e o depois do Jesus Cristo que dolorosa e iminentemente nascia em um celeiro qualquer, se libertava do útero, desapertava-se da escuridão, irrompia sob a atmosfera, comia pão.
A poucas horas do Natal, eu era a mesma, embora já não mais a fosse. Graças a Deus!
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Organização e tradução de João Barrento. Belo Horizonte (MG): Autêntica Editora, 2012.
Créditos da imagem da capa: Imagem autoral. Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro (RJ), 23/12/2022.
Ana Carolina Monay dos Santos
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História da Historiografia
História da Historiografia: International
Journal of Theory and History of Historiography
ISSN: 1983-9928
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E muito forte a profundidade, e incrível como toca , a nossa alma , sempre né deixa emocionada 🥹🥹❤️