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Crônicas, contos e ficções

Jair na mesa e Jair na cama

Habita no imaginário preconceituoso e popular brasileiro uma historieta que envolve uma personagem com hábitos puritanos no convívio coletivo e, esta mesma personagem, ao experenciar o cômodo mais íntimo de sua casa, personifica-se na mais pura depravação sexual. Peço licença ao ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, mas a historieta ganha ares cômicos [ou trágicos?] ao imaginar o educado FHC com um trato finamente diplomático transformando-se em um dos homens ricos e libertinos dos 120 dias de Sodoma de Marquês de Sade. Aqui, talvez, o jargão “Freud explica” seria usado com grande chance de se errar pouco. A constante repressão sexual a que FHC foi submetido o fez um gentleman no público e um libertino no privado. Percebe-se que tal historieta é tão diluída em nossa formação sócio-repressiva que o espanto fica na conta do exemplo com o ex-presidente. Se fosse um tio de seu primo tudo estaria normal. No entanto, de alguns anos para cá, outra historieta passou a povoar o imaginário preconceituoso e popular brasileiro. Diz-se, agora, de uma personagem com hábitos da mais pura depravação sexual no convívio coletivo e, esta mesma personagem, ao experenciar o cômodo mais íntimo de sua casa, personifica-se no puritanismo. Diferentemente da licença que educadamente pedi ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para fabular acerca de sua vida, agora, ao falar de Jair Bolsonaro, não fabularei. Não será preciso, pois a sua má fé somada à burrice fornecem casos reais. Tal como um integrante do Estado Islâmico que somente se comunica de modo ofensivo por mídias sociais tivemos, após a festa do Carnaval, a manifestação pública de Jair Bolsonaro. De vídeos grotescos com dedadas e xixi seguido de conselhos presidenciais sobre a decadência moral do Carnaval até a reveladora pergunta o que é golden shower?  Na mesa do convívio coletivo Jair Bolsonaro sabe muito bem falar sobre quem ele estupraria ou não; também sabe compartilhar vídeo com pinto, xixi e cú [tudo pela moralidade, austeridade e rigidez]; não hesita em falar de sua tara zoofílica por jumentinha, bezerrinhas e galinhas. Já no cômodo mais íntimo fico imaginando o moralista conversando com a recatada: Ô Michelle. Nada de golden shower, heim. Imagina se os nossos meninos entram no quarto. Ai, Ai, meu Mijair. Essa sua decência me exita!  Enquanto isso, no quarto ao lado, o menino Carlos arquitetando o ser liberal a la Bolsonaro: Ô capitão! Na mesa vendemos o Brasil e nos gozamos inteiro. Na cama recitamos versinho bíblico e nem falamos a palavra pinto [vai que sonhamos, né Freud?].

 

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