não quero a gratidão egoísta
da missa dominical
prefiro peregrinar no deserto
e nele beber da água salobra
se salobra for toda a água que houver
quero beijar a testa do samaritano
enfaixar-lhe as feridas
valha-me caminhador de Emaús
salva-me de mim mesmo
os dias são alamedas infinitas
ladeadas de sarças
as noites são mais habitáveis
porque não são minhas
aliás nada é meu
além desse cansaço
preciso dormir
nos braços de Andrômeda
depois voltar
depois partir
como um pássaro invisível
que voa dentro do fogo
para os olhos cegos
do inexistir
*Goiânia, janeiro/2024
Créditos da imagem: Ruínas de Emaús / Wikipedia