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Poesia

Liturgia em dó menor

 

não quero a gratidão egoísta

da missa dominical

prefiro peregrinar no deserto

e nele beber da água salobra

se salobra for toda a água que houver

quero beijar a testa do samaritano

enfaixar-lhe as feridas

valha-me caminhador de Emaús

salva-me de mim mesmo

os dias são alamedas infinitas

ladeadas de sarças

as noites são mais habitáveis

porque não são minhas

aliás nada é meu

além desse cansaço

preciso dormir

nos braços de Andrômeda

depois voltar

depois partir

como um pássaro invisível

que voa dentro do fogo

para os olhos cegos

do inexistir

 

*Goiânia, janeiro/2024

 

 

 


Créditos da imagem: Ruínas de Emaús / Wikipedia

 

 

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