HH Magazine
Crônicas, contos e ficções

Mais consumo. Menos prozac.

Domingo. 15h00. Os comerciantes da cidade não deixam os restaurantes abertos para quem deseja almoçar neste horário. Ou se almoça em casa ou, então, adentra-se em um espaço com enormes colunas brancas e um cristo de braços abertos pronto para te servir um bife com tabule. Pois é. Havan. Construção no formato de templo de igreja pentecostal, com um cristo recebendo a todos os consumidores no reino de um tal de Luciano Hang. Ano passado, no período das eleições, o estacionamento da Havan foi palco de manifestações incríveis. Hino nacional sendo tocado e dançado (!), trio elétrico puxando uma reza no estilo pai-nosso-que-estás-no-céu, organizadores agitando a massa a comemorar que as mulheres de direita eram mais bonitas que as mulheres de esquerda [após, é claro, do pai-nosso-que-estás-no-céu-santificado-seja-o-seu-nome], criançada com a camiseta de Jair Bolsonaro estilizado nos traços do desenho animado Simpsons e fazendo arminha com os dedos. Um espetáculo. Parece que o dono até ficou famoso por aí e andou tirando uns chapéus no programa de Raul Gil. Agora deu uma sumida por alguns probleminhas com a justiça. Mas voltando ao domingo às 15h00. Ao mesmo tempo em que você se nutre na praça de alimentação é possível vislumbrar todo um comércio de roupas, utensílios para cozinha, brinquedos, enfeites, ferramentas, eletrônicos. Nesta multidão de objetos inanimados algo se insinuou. Primeiro na forma de um moletom que carregava no peito uma seqüência de quatro linhas com a frase “I am important” [eu sou importante]. Depois na forma de um pijama com o escrito “The only Queen” [a única rainha]. Ao lado uma camiseta que é chamada pela moda de básica carregava a frase “No inspiration today” [nenhuma inspiração hoje]. De supetão alguém diria que estava em uma loja gringa ou em um consultório de auto-ajuda. Depois de observar a camiseta básica, o moletom e o pijama parece que os objetos inanimados perderam a vergonha e não pararam de falar um segundo. E tudo em inglês apesar de produzidos em Brusque. Pure charme, Trust, Everything is hard before it is easy, C’est cool, Crush, Make yourself, Enjoy every moment, Time to have fun, Be strong, Born to be authentic, Why not?, Time’s up, Stronger than fear. Se alguém não se sentir motivado a comprar com toda esta pressão não poderá acusar o mercado de não ser simpático, positivo, incentivador, acolhedor. Postura de um mercado prafrentex ou como os gênios da propaganda diriam: mais consumo e menos prozac. Por fim, depois de comprar uma camiseta dizendo que você é legal e uma calça afirmando que você nasceu para ser original basta passar no caixa e terminar o seu consumo sem culpa, sem ansiedade, sem depressão, sem solidão, sem baixo astral. De quebra você poderá doar suas moedas para algum projeto social e ir tranqüilo para casa com o sentimento de missão cumprida. Afinal de contas tudo é difícil antes de ser fácil como bem afirmou a sua bermuda.

 

 

 

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