Podia escrever um conto.
Uma mulher. Uma personagem feminina, sem ti não o faria.
Ela vem, ela viria. Mas vem com um pacote. Viria.
Ele, o narrador, desembrulha o pacote ao longo da história. Não este teu narrador nesta nova outra historinha.
No fim fica só com ela. O pacote é deixado de lado.
A gente não ficaria.
O pacote fica largado em algum lugar. Ficaria. Largado desembrulhado.
A gente muito aninhado, animados, juntos juntados: outra historinha.
O conto pode se chamar Pacote. Chamar-se-ia.
Mas não é uma caixa de Pandora. Não seria. É uma máquina do mundo desembrulhada. Nossa máquina do mundo funcionando. Funciona, não funcionaria.
Ele é morador de uma cidade.
Ela, personificação da cidade.
Que tal?
Agora te conto outro conto.
Tive um gato chamado Pacote. O gato morreu.
Eu dizia: o Pacote empacotou.
Agora te conto mais outro conto.
Tive outro gato chamado Caixinhas. Esse não morreu. Escafedeu-se, como faz o narrador frente ao pacote da mulher. Como faz o homem frente à personificação da cidade. Como fez o narrador ao dizer que podia escrever um conto. Esse morreu ao escrever o conto. O conto ficou pronto ao dizer que escreveria.
Créditos na imagem: Reprodução: Pandora, 1898, John William Waterhouse/Domínio Público.
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