Éramos sobre o caminho

Falávamos sobre a travessia

De alguma forma precisa

Não formávamos coisa alguma

Não estávamos convictos naquilo

Nas vias, pensávamos ter um norte

Não imaginávamos onde daria

Mas margeados, seguíamos indo

Construímos nossos devaneios

Delimitávamos nossos lados

À esquerda, víamos uma linha

Que partia de nenhum lugar

À direita, havia outra igual

Que se findava onde os olhos se perdiam

Nós, envoltos tão somente por nós

Centralizávamos o mundo em nossos umbigos

Nesse instante em que nos achávamos

Nos perdíamos em perspectivas unívocas

Unificávamos os segmentos contínuos

Pensamos ter definido o tempo

Segmentavamo-nos em continuidades únicas

Incessantemente caminhávamos

Em lugares imprecisos, em momentos difusos

As percepções vinham sem anúncios

Do nada, nossos corpos tomavam contornos

Borrões de certezas como o respirar

Nítidos com a luz que vinha do céu

Ousávamos definir todas as coisas

Brincávamos de Deus todos os dias

Além daqueles corpos, existiam só as margens

Quando mirávamos nelas, esquecíamos de nós

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Autor: Will Lopes. Alguns riscos e cores. Técnica: Nanquim e lápis de cor sobre papel. Dimensão: 210 x 297. 2019.

 

 

 

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