O chamado “Dia do Índio” geralmente é tratado como um dia para relembrar a resistência dos povos nativos frente à invasão do homem branco. O processo, que deixou inúmeras chagas aos nativos, deve ser trazido à luz dos fatos e de maneira crítica, buscando dar vida a esse passado para que ele também seja parte ativa de nosso presente. Nesse sentido, buscamos listar 5 diferentes obras que retratam elementos diferentes da questão indígena no Brasil e na América Latina. Nosso objetivo é fornecer um trato sensível e elucidativo sobre a questão tendo como base o cinema. Esperamos que gostem!
As hiper mulheres (2011)
O primeiro item da lista é um documentário produzido no Brasil. Sua narrativa se inicia quando um índio do grupo Kuikuro pede para que a comunidade realize o famoso ritual feminino Jamurikumalu, uma cerimônia de canto e movimento destinada aos integrantes do grupo que estão próximos de falecer – no caso, a esposa do nativo que solicitou o rito. A obra expõe o poder das tradições para a coesão da comunidade e a perda de contato dos mais jovens com essas práticas.
Xingu (2012)
Xingu é uma potente obra que retrata a “Marcha ao Oeste” no Brasil durante a década de 40. De início, somos apresentados aos irmãos Orlando, Claudio e Leonardo, os exploradores incumbidos da missão de desbravar o Brasil central. O filme então se focará na relação que os irmãos desenvolverão com os nativos do Xingu e como as duas partes se transformarão ao longo desse encontro. Xingu também chama a atenção por sua belíssima fotografia (ora destacando a grandiosidade da mata, ora se focando no íntimo dos personagens), além das excelentes atuações.
O Mestre e o Divino (2013)
O mestre e o Divino é uma obra interessantíssima sobre alteridade. Nela dois cineastas demonstram a vida na aldeia e na missão de Sangradouro, Mato Grosso: Adalbert Heide, um excêntrico missionário alemão, que, logo após o contato com os índios, em 1957, começa a filmar com sua câmera Super-8, e Divino Tserewahu, jovem cineasta Xavante, que produz filmes para a televisão e festivais de cinema desde os anos 90. Entre cumplicidade, competição, ironia e emoção, eles dão vida a seus registros históricos, revelando bastidores bem peculiares da catequização indígena no Brasil.
O Abraço da Serpente (2015)
A obra do diretor Ciro Guerra traz uma abordagem original e visualmente incrível para um tema de grande circulação atualmente: o colonialismo e a violenta emergência de um salvador branco europeu em sua jornada de exploração científica e descoberta do território “selvagem”. Entretanto, “O Abraço da Serpente” subverte essa lógica ao direcionar o protagonismo da obra para a perspectiva do Xamã Karamakate, que parece viver em um estado de amnésia autoimposta em meio a solidão da floresta. Junto ao telespectador, o nativo redescobrirá elementos da própria identidade e história ao longo de seu encontro com um etnógrafo europeu, interessado nas propriedades de uma planta amazônica.
Piripkura (2017)
O último item da nossa lista não é um filme, mas um documentário produzido no Brasil. Piripkura é sobre a resistência ao genocídio provocado por garimpeiros e madeireiros no território indígena que nomeia o documentário. Apenas dois indígenas, Tamandua e Baita, sobreviveram ao genocídio, vivendo ameaçados pela ação ilegal dos invasores até o presente momento. A obra é um retrato desolador sobre a atual situação indígena no país, explorando os limites da atuação dos órgãos de fiscalização e o descaso (sendo bastante eufemista) do Estado brasileiro para com os nativos.
Créditos da imagem de capa: cena de “O Abraço da Serpente”.