O casamento da economia ultraliberal com a nova onda conservadora mediada pelas mídias sociais

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Não é de hoje que os veículos de comunicação como um todo são pautas para críticas em relação ao avanço e disseminação de notícias falsas. Aqui no Brasil temos uma palheta de cores que com muito mal gosto pintam o cenário nacional. Desde o apoio às grandes emissoras ao regime militar, que gerava desinformação e despertavam o lado gastronômico em todo cidadão de bem, através das “Receitas de bolo” as quais irrompiam uma notícia impressa, além da enxurrada de capas de revistas nacionais durante o Golpe de 2016 que apelavam para hipérboles infundadas com intuito de fortalecer as desestabilizações das estruturas do antigo governo Petista e, de modo geral, ainda está fresco em nossas memórias a caprichosa e abundante sequência de Fake News que levou um candidato à presidência nacional.

Contudo, a ingênua ideia de que a internet furou o bloqueio das informações que eram impostas pela ditadura dos monopólios capitalistas de comunicação brasileiro através de vários canais de acesso, tanto pelos sites de busca, quanto pelas redes sociais, necessita atualmente ser repensado. Tendo em vista que foi necessário haver boicotes de grandes empresas ao Facebook para que ele pudesse rever suas políticas de uso a julgar pelo crescente ataque aos direitos humanos, frutos de perfis extremistas. Todavia, além das bolhas ideológicas presentes nas redes sociais inacessíveis a pessoas com vieses políticos oblíquos, existem em concomitante algorítmicos que não só são base para a criação dessas arapucas, como também pela análise de sentimentos, uma área de T.I onde é possível avaliar os gostos das pessoas nas redes, por conta de diversos dados coletados todos os dias desses indivíduos.

Tanto a Google, quanto o próprio Facebook, alegam que tais dados são estritamente minerados apenas para recolher informações que possam proporcionar ao internauta uma experiência mais agradável e, que principalmente, as grandes empresas consigam divulgar seus conteúdos de acordo com as preferências dos indivíduos, gerando assim um ambiente deleitável e atraente de forma totalmente gratuita, basta apenas ter acesso à internet. Um discurso totalmente oposto ao supercomputador Alpha 60 que abolia os sentimentos e conduzia a vida dos cidadãos moradores da cidade de Alphaville criada em 1965 por Jean-Luc Godard. Isso porque, as redes sociais trabalham com o estímulo do neurotransmissor conhecido como “Dopamina” que enlaçam seus usuários nas telas através de diversas interações entre curtidas e comentários, fazendo com que a “Dopamina” seja liberada causando pequenos momentos de êxtase no usuário mesmo que ele não tenha plena consciência disso, e as reações desse mesmo indivíduo são exploradas pela análise de sentimentos, que é coletado pelas grandes empresas, para que as propagandas possam ser segmentadas diretamente ao usuário, construindo uma Timeline diversificada a gosto do freguês.

Até então, nada novo sob o céu cibernético, entretanto, essas ingênuas coletas de dados, levou Trump à presidência dos Estados Unidos em 2016,  influenciou a juventude negra de uma cidade na Índia a não votar naquele ano para que uma candidata Indiana vencesse, além de auxiliar na campanha para a saída do Reino Unido do Brexit, quem estava por trás desses eventos não era apenas a falida empresa de análise e coleta de dados Cambridge Analytica mas, o próprio Facebook que em um dos seus maiores escândalos submeteu Zuckerberg a um ridículo interrogatório, realizado pelo Senado Americano em que o mesmo, recebeu perguntas relacionadas a curiosidade de como era possível manter uma rede social sem que ela fosse privatizada, e o próprio Mark, segurando um possível sorriso debochado,  relatou que era devido ao financiamento de propaganda. Steve Jobs, antes de partir já alertava que todas as pessoas deveriam ter direito a conhecer pelo menos o básico acerca do ciberespaço, fazendo com que perguntas como essa, em um interrogatório sobre questões sérias, já fossem de clareza por parte da jurisdição inquisitorial.

O  Profº Dr. da Unifesp Henrique Amorim, sempre advertiu para o fato de que, ao longo da história, com as crises que o sistema capitalista tendia a enfrentar, as políticas conservadoras ao redor do globo tinham a tendência de constantemente se alastrar permitindo então uma aliança entre política e grandes empresas, para equilibrar a conjuntura do sistema plutocrático.

A exemplo disso temos  o ultraconservador Andrzej Duda reeleito presidente da Polônia, que conseguiu um número expressivo de votos atacando os direitos das minorias políticas, não muito distante da nossa realidade brasileira. Acontece que o Facebook tem sido o “santo casamenteiro” dessa conciliação entre políticas conservadoras e o próprio ultraliberalismo, tendo em vista que a principal fonte de monetização da plataforma é o anúncio. O que essas grandes empresas da análise e coleta de dados fazem ao ser contratadas por determinado partido político é analisar o perfil de cada usuário. Por meio do mecanismo do Facebook Ads, ou seja, a ferramenta paga para segmentação de anúncios de acordo com a idade, sexo, preferências políticas, gostos no geral do usuário, fomenta e incrementa em sua Timeline, uma sequência de “memes”, manchetes e todo tipo de linguagem comunicativa que possa intencionalmente influenciar e reforçar as opiniões dos usuários, por isso o discurso de ódio tem claramente se irradiado nas redes. Ainda que Mark Zuckerberg possa banir os anúncios políticos durante o período de eleições, devido não somente ao escândalo em 2016, no qual milhares de pessoas tiveram seus dados roubados e vendidos, mas também, devido ao recente boicote das grandes empresas, ainda é possível estimular os indivíduos com outras postagens que não precisam ser necessariamente com viés político, para incitar  opiniões nos usuários, pois  os Outdoors publicitários estão cada vez mais sofisticados e são incrementados nos usuários de forma sutil, tanto pelo estímulo de neurotransmissores que desencadeiam sensações de prazer, quanto pelas bolhas que derivam desses atos.

Essas questões nos conduzem a ponderar o quanto a democracia mundial entra em xeque nesse esquema de influências psicológicas político-publicitárias virtuais, na medida em que o debate é cada vez mais minimizado e totalmente agressivo, não havendo mais controle do que se é divulgado. Mesmo a criação de políticas que visam fiscalizar a circulação de postagens nas redes sociais ainda é insuficiente. Ao invés de colocar cabrestos nas pessoas, delimitando o que pode ou não ser publicado nas mídias sociais, seria mais viável, eu acredito, conduzi-las à luz da educação, sobretudo, da educação digital às conscientizado sobre as diversas formas de uso das plataformas.

Contudo, em um país como o Brasil, onde a própria estrutura educacional de base enfrenta uma pangeia de complicações e problemas estruturais, para além do fato de que o acesso à internet continua extremamente limitado, é difícil imaginar que esse tipo de política seja efetivo, ou até mesmo implantado de modo a conduzir melhores usos das mídias sociais e para tanto, redução das tais “Fake News” ou até mesmo exaurir o “gabinete do ódio”. Os indivíduos que sabem o poder que essas mídias possuem, as preenchem de munições para o “ataque” em nome de uma desleal bandeira que visa a “liberdade de expressão” atingindo ano após ano novas tábuas de “Tiro ao Álvaro” e sempre encontrando novas maneiras, cada vez mais aprimoradas de mirar e, consequentemente, acertar esses usuários em cheio.

 

 

 


REFERÊNCIAS

AMER, Karim & NOUJAIM Jehane. The Great Hack. 2019. Documentário, disponível. Netflix.

AMORIM, Henrique. Centralidade e Imaterialidade do Trabalho: Classes Sociais e Luta Política. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 8 n. 3, p. 367-385, nov.2010/fev.2011

CHOUZA, Paula. Ultraconservador Andrzej Duda é reeleito presidente da Polônia. El País, Internacional, 13 jul 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2020-07-13/ultraconservador-andrzej-duda-e-reeleito-presidente-da-polonia.html Acesso. 13/07/2020

FAPESQPB, Computador é “ensinado” a identificar sentimentos em textos. Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba. Notícias 03 Nov 2019. Disponível em: http://fapesq.rpp.br/noticias/computador-e-ensinado-a-indentificar-sentimentos-em-textos

METEORO, Brasil. Um boicote ao Facebook. 8 de jul. de 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qRuHzQnViK4 Acesso. 13/07/2020

SOUZA, Marcelle. Querem sua atenção! Como redes sociais usam a dopamina para te viciar. Tilt Uol. Redes Sociais. 01 out 2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/10/01/a-dopamina-nos-deixou-viciado-em-tecnologia.htm Acesso. 13/07/2020

 

 

 


Créditos na imagem: Justificando / Reprodução. Disponível em: http://www.justificando.com/2017/09/28/agora-virtual-nao-supera-o-capitalismo-nem-destroi-ordem-patriarcal/

 

 

 

SOBRE A AUTORA

Sarah Rocha

Uma viajante no tempo que cantarola a Reza de Rita Lee para espantar o mal, nesses tempos sombrios aos sonhadores.

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