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História e memes: estratégias didáticas para o enfrentamento do esquecimento feminino
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História e memes: estratégias didáticas para o enfrentamento do esquecimento feminino 

A disciplina “Reflexões femininas entre a História e a Literatura” teve como um dos objetivos resgatar a memória de mulheres que escreveram sobre História, romances, biografias e outros gêneros durante os séculos XVIII e XIX. Entre as propostas de avaliação sugeridas pela professora Flávia Florentino Varella estava a preocupação com a difusão do conhecimento produzido na disciplina para plataformas que transcendessem a universidade e como, por exemplo, o conteúdo produzido poderia ser utilizado em aulas de história no ensino básico.

Ao longo da disciplina percebemos o obscurecimento de escritoras e de seus textos; obras que no período em que foram produzidas tiveram impacto sobre os leitores e sobre os movimentos literários foram esquecidas bem como personagens tematizadas por essas escritoras. Com as orientações da professora e com o decorrer das aulas pode-se resgatar a participação feminina nas produções textuais e também na vida política e social e compreender como essas mulheres foram neutralizadas ao longo do tempo pela sociedade.

Entre as autoras estudadas estava Lady Maria Dundas Graham Callcott (1785-1842), mais conhecida no Brasil como Maria Graham. Ela foi uma escritora britânica de literatura de informação e infantil, além de pintora, desenhista e ilustradora. Esteve no Brasil em três ocasiões entre as quais escreveu o Diário de uma Viagem ao Brasil (1824). Nas primeiras décadas do século XIX, a curiosidade pela imagem do país no cenário mundial crescia. Iniciou-se um processo sistemático de estudo e pesquisa da flora, fauna, geografia e vida social no reino americano que atraía viajantes do mundo todo. Algumas expedições se tornaram célebres pelos seus resultados científicos, artísticos, descrição da vida social… Foi nesta conjuntura que a inglesa Maria Graham veio para o Brasil acompanhando seu primeiro marido Capitão Thomas Graham.

Em seu Diário, a escritora inglesa narrou alguns conflitos armados referentes aos combates que integraram à luta pela Independência e foi a partir de seu relato que conhecemos Maria Quitéria de Jesus. Maria Quitéria foi uma militar brasileira que participou da Guerra da Independência. Foi a primeira mulher a ser reconhecida por assentar praça numa unidade militar das Forças Armadas Brasileiras e também a primeira mulher a entrar em combate pelo Brasil, em 1823. Hoje ela figura como patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.

Sem que soubessem da sua condição de mulher, Maria Quitéria com o nome de seu cunhado, José Cordeiro de Medeiros, se juntou ao Batalhão de Artilharia. Ela sabia atirar bem, foi ensinada a mexer nas armas de caça e a defender-se dos perigos do sertão. “As moças aprendem o uso de armas de fogo, tal como seus irmãos, seja para caçar, seja para defenderem-se dos índios brabos” (GRAHAM, 1956, p. 330). Graham chama atenção para o fato de Quitéria não saber ler nem escrever, mas ser uma mulher inteligente e corajosa.

Apesar de pesquisas históricas atuais observarem que a participação das mulheres nas lutas pela independência nos países da América Latina foi recorrente e importante, a memória desta participação não integra o imaginário popular. O protagonismo feminino foi esquecido já que parte significativa dos documentos, relatos e estudos da História valorizados foram aqueles produzidos por homens.   Neste aspecto, em meu trabalho para a disciplina procurei criar memes que ilustrassem algumas questões do artigo que produzi – “As Marias que fizeram história no Brasil: do relato de viagem à infantaria do exército”. Procurei resgatar o protagonismo das mulheres no século XIX através de suas narrativas históricas e dos espaços que ocuparam que excediam o lar.

Criar os memes foi uma experiência de produção de conhecimento diferente das práticas convencionais porque é uma linguagem que envolve uma dialética própria. Embora a mensagem através deles seja de transmissão imediata, para que o conteúdo inserido na imagem faça sentido, é necessária alguma informação prévia por parte do leitor a respeito da temática abordada. Tendo em vista os limites do conhecimento sobre as escritoras dos séculos XVIII e XIX e da participação de mulheres na vida política, militar e social de forma geral foi necessário a inserção de legendas explicativas que trouxessem à tona a provocação sobre o esquecimento delas.

 “Quantas autoras você conhece que escreveram no século XVIII e XIX? No censo britânico realizado em 1871, 255 mulheres se autodenominaram exercendo a profissão de escritora, em 1891 esse número aumentou para 660.”

Acredito que o uso dos memes no contexto de sala de aula no nível básico e médio pode ser um recurso didático relevante capaz de facilitar o estímulo à atenção dos alunos através de uma linguagem que faz parte do cotidiano virtual deles. Os memes atuam como aberturas para o aprofundamento de conceitos e fatos históricos que através do humor pode contribuir para assimilação da experiência histórica bem como o questionamento de práticas sedimentadas como o esquecimento e a neutralização da presença feminina do cotidiano literário, político, social.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Crédito da imagem: Retrato póstumo de Maria Quitéria de Jesus, Domenico Failutti, c. 1920. Maria, Lady Callcott, por Thomas Lawrence.

CAVALCANTI, Denise Peruzzo Rocha; LEPRE, Rita Melissa. Utilizando memes como recurso pedagógico nas aulas de história. In.: Congresso Internacional de Educação e Tecnologias, 4., 2018. Encontro de Pesquisadores em Educação à Distância. 2018, p. 1-8. Disponível em: <http://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2018/article/view/746/597>. Acesso em: 9 de jan. 2019.

CALIXTO, Douglas de Oliveira. Memes na internet: Entrelaçamentos entre Educomunicação, cibercultura e a ‘zoeira’ de estudantes nas redes sociais. Dissertação (mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciências da comunicação – Escola de comunicação e Artes. USP. São Paulo. 2017.

GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil. Tradução: Américo Jacobina Lacombe; São Paulo, Editora Nacional, 1956.

ROMANCINI, Richard. Em busca do meme perfeito (para a educação). 2018. Disponível em: <https://www.institutonetclaroembratel.org.br/educacao/nossas-novidades/opiniao/em-busca-do-meme-perfeito-para-a-educacao/>. Acesso em: 9 jan. 2019.

 

 

 

 

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1 Comment

  1. Sr aleatório

    Mandou bem, como é de se esperar

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