Desde a abertura política, a sociedade tem se mobilizado com mais força em torno de questões fundamentais: reforma agrária, moradia, saúde, emprego, educação etc. Especificamente na questão educacional, a sociedade passou a enxergar nela um instrumento privilegiado para melhorar suas vidas. Também nesse sentido, a educação passou a ser entendida enquanto instrumento para o aprimoramento e ampliação da cidadania. A Constituição Cidadã de 1988, vai expressar isso em forma de lei, trazendo a educação como um direito de todos e dever do Estado e da família (art. 205).
E no bojo desses acontecimentos, ainda na década de oitenta, cunhou-se o conceito de letramento, que buscava expressar a necessidade de um salto qualitativo da alfabetização. Portanto, a questão colocada era que todos deveriam passar pelo processo de alfabetização e letramento. Mas afinal de contas, o que é o letramento? Qual a diferença entre letramento e alfabetização? Vamos tentar explicar nas linhas a seguir.
É bastante comum as confusões entre os termos alfabetização e letramento. A mais corriqueira é tomá-las como sinônimos. Embora elas estejam intrinsecamente relacionadas, tratam-se de categorias distintas. Quando se fala em alfabetização, deve-se considerar que se trata do aprendizado dos códigos linguísticos e das operações realizadas com esses códigos. Assim, uma pessoa alfabetizada é aquela que sabe ler e escrever. Em suma, trata-se de um conhecimento técnico.
Por outro lado, quando se fala em letramento, trata-se do desenvolvimento desse conhecimento técnico em direção a constituição de uma competência crítica. Isso quer dizer que o letramento está relacionado com o uso da leitura e da escrita para o enriquecimento da subjetividade. Por conseguinte, a subjetividade enriquecida produz leituras cada vez mais acuradas e, conjuntamente, funciona enquanto um esquema de reflexão e orientação social.
Assim sendo, pode-se apontar que uma pessoa letrada é aquela que canaliza a habilidade linguística em direção da apropriação dos saberes historicamente acumulados. Por conseguinte, esses saberes vão sendo interiorizados e exteriorizados, visto que funcionam como ferramentas de intervenção da realidade. De tal maneira, que o desenvolvimento do letramento implica em saltos de qualidade individual e social. Portanto, o letramento se trata de um conhecimento teórico-metodológico.
Dito isso, fica evidente que o letramento é basilar para a formação da cidadania, em um sentido mais restrito. E, em um sentido mais amplo, o letramento é condição sine qua non para a emancipação humana. Assim sendo, o letramento é um processo contínuo em direção ao aprimoramento da humanidade. Diante do exposto, podemos dizer que o letramento não se encerra na escola e deve seguir toda a nossa vida.
Créditos da imagem da capa: Nilma Alves Pedrosa