Certo domingo soube que uma professora universitária postou a seguinte frase em seu perfil público do facebook – “ARMAS: se você é contra as armas, não chame a polícia… Eles usam armas. Ligue para algum professor de história, ele usa livros”. Pensei em responder. Desisti. Fui caminhar e olhar para o mundo. Desisti. Resolvi escrever uma crônica seguindo os ensinamentos de Ferreira Gullar que certa vez disse a crônica tem a seriedade das coisas sem etiqueta. Notadamente tal professora deve compor a parcela entusiasta do presidente Jair Bolsonaro e do seu decreto de estimação n° 9.685, de 15 de janeiro de 2019. Claro também fica, a partir de seu comentário, a confusão entre a medida da posse de armas para os civis e o monopólio da violência pertencente ao Estado. Talvez apenas carência de honestidade ou de desinformação [ambas vulgares a uma professora universitária]. Nítido fica, a partir de seu comentário, que a função da polícia se limitaria ao uso das armas. Séculos se passaram desde a efetivação de polícias preventivas, investigativas e de controle da violência, mas para a professora tudo se resume a uma arma. O interessante é a oposição entre armas e livros. A professora universitária escolheu as armas. Entre a posse de armas e a posse de livros uma profissional da educação optou pela primeira. Chamo a atenção para algo fundamental: perceba que no exemplo postado nenhum crime acontecia. Nenhuma sagrada propriedade fora invadida. Nenhum bandido-bom bandido-morto estava adiando o seu cadáver pelas ruas. Nada. Apenas o fato da contrariedade à posse de armas foi o suficiente para esgoelar armas ao invés de livros. A mera discordância em um tema próprio da comunidade foi o bastante para desautorizar o uso de um serviço público [a polícia] a outros cidadãos. O ato de ser contra as armas colocaria a polícia e os professores [de História, sempre eles e os seus amigos da Filosofia] em espaços rivalizados. Como se policiais não tivessem outra conduta que não a de atirar com suas armas. Armas, inclusive, nunca negadas a eles. Dei aula a policiais e os vi estudando Aristóteles, Stuart Mill, Hegel, Marx e Foucault. Vi policiais portando livros e não armas. O que não havia visto era uma professora universitária marginalizar os próprios professores e os seus inseparáveis amigos, os livros. No fundo o ditado está certo: péssimas idéias podem se trajar com púrpura assim como os tolos podem se vestir com belas roupas. Por fim, chamo novamente a Ferreira Gullar para deixar um recado a todas e todos os professores universitários: Os ditadores não sabem que em frase como a bala ou à bala é indiferente crasear ou não. Telefone: (41) 9958-LIVROS.
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