O Queijo e os Vermes é uma obra seminal que investiga a vida e as ideias de Menocchio, um moleiro do século XVI acusado de heresia pela Inquisição. Ginzburg utiliza a história de Menocchio para nos mostrar como as influências da cultura popular podem ser desenterradas a partir de fontes aparentemente insignificantes, e como essas revelações podem lançar uma luz surpreendente sobre a atenção das pessoas comuns da época.
Carlo Ginzburg, nas escolas italianas, aprendeu e se aprofundou na micro-história, enfatizando a importância de “olhar de perto” e examinar detalhadamente as evidências aparentemente marginais para entender as complexidades da experiência humana. Ele demonstra como, ao investigar minuciosamente as escritas de Menocchio, que eram consideradas obscenas e heréticas, é possível reconstruir a visão do mundo desse homem simples e sua interação com as estruturas de poder de sua sociedade.
Além disso, o livro não apenas nos introduz à obra de Ginzburg, mas também explora seu contexto histórico e suas influências, traçando a evolução da micro-história e a maneira como Ginzburg aperfeiçoou essa abordagem ao longo de sua carreira. Ademais, “o Queijo e os Vermes” nos oferece percepções sobre a própria história da historiografia e como Ginzburg ajudou a redefinir os limites da pesquisa histórica.
Mas há mais. Existe algo que discute o impacto duradouro de Carlo Ginzburg no campo da história e destaca como sua metodologia inovadora influenciou gerações subsequentes de historiadores. Ginzburg não apenas nos ensinou a olhar para os detalhes, mas também a compreender as complexidades culturais, sociais e políticas que moldam a história daquele período, enfatizando isso em seu livro.
Partindo disso, Menocchio, no livro, é um personagem impressionante. Sua notável articulação e clareza de pensamento surpreendem, principalmente quando confrontado com os inquisidores e o sistema de autoridade da Igreja Católica. Menocchio não se acanha diante das ameaças de perseguição e tortura, e ousadamente discorda sobre suas ideias, para o espanto dos clérigos e inquisidores presentes. Sua coragem em expressar suas convicções, muitas vezes sem se importar com as graves consequências que poderia sofrer, demonstra seu desejo inabalável de comunicar aquilo em que acreditava.
Nesse sentido, Menocchio acreditava em um mundo de origem material, uma visão que destoava radicalmente com os dogmas religiosos da época. Em sua cosmovisão, ele descreve a criação do mundo a partir do caos, onde todos os seres tomam substância, assim como os vermes surgem do queijo. Essa metáfora, que dá título ao livro de Ginzburg, ilustra de forma vívida a visão herética de Menocchio, que via a criação e a existência como um processo natural, onde as coisas emergem espontaneamente do caos, em vez de serem criadas por uma sobrevivência.
Essa representação ousada e iconoclasta do mundo de Menocchio colidiu diretamente com a visão religiosa predominante da Igreja Católica. A Igreja via o mundo como um ato de criação divina e condenava veementemente qualquer visão que desafiasse sua autoridade e interpretação das escrituras. A heresia de Menocchio o levou a ser acusado de pensamentos subversivos, o que, em última instância, o levou ao tribunal da Inquisição.
Por fim, na história de Menocchio, contada por Carlo Ginzburg, destaca não apenas a coragem individual de um homem simples em expressar suas opiniões heterodoxas, mas também a tensão entre o pensamento popular e as estruturas de poder da sociedade. Desse modo, através do estudo meticuloso do autor, somos levados a uma exploração profunda da mente de Menocchio e de como suas ideias experimentam e revelam aspectos importantes da compreensão das pessoas comuns na sociedade do século XVI.
REFERÊNCIAS
GINZBURG, C. O Queijo e Os Vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Créditos da imagem: Reprodução. Disponível em: https://images.app.goo.gl/MWqMDYrnt9CEzbXc6