Chuvas de março é um documentário historiográfico com duração de 1 hora e 20 minutos, que foi realizado como forma de avaliação para o curso de pós-graduação Potenciais da imagem, promovido pela Oficina Cinema e História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia. Sua produção e direção foram feitas por Johny Guimarães da Silva, mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor auxiliar da Universidade do Estado da Bahia, e Volney Menezes, professor, produtor, audiovisual e documentarista da TV Olhos D’Água.
O documentário busca trazer o contexto feirense a partir da década de 1960, problematizando os acontecimentos que culminaram no golpe militar e buscando destacar, através da oralidade, sobretudo de depoimentos da sociedade e falas de torturados durante a ditadura e de seus familiares, os aspectos sociais e políticos do momento na cidade.
Uma ditadura comandada por militares governou o Brasil entre 1964 e 1985, o golpe se deu a partir da derrubada de João Goulart da presidência da República, o qual tinha como eixo político as reformas de base. Como consta no Ato Institucional Número Um, os militares se colocavam a todo momento como promovedores de uma “revolução gloriosa”, a qual buscava combater o comunismo, além de, segundo eles, contar com o apoio incondicional da população.
Na época, a ditadura reverberou em todo o país, inclusive em Feira de Santana, e é isso que o documentário busca evidenciar. No aspecto político, o prefeito da cidade, Francisco Pinto, começou a ser atacado, a mídia passou a vinculá-lo como comunista e contrário à “revolução”, espalhando a notícia de que ele estava reunindo armas para enfrentar o governo. Além de Pinto, representantes do jornal Folha do Norte também deram seus depoimentos para o audiovisual, deixando evidente o posicionamento anticomunista do jornal, o qual se utilizava do medo para legitimar o golpe. Esse mesmo tipo de discurso também circulava em parte dos opositores, em específico, através da figura de Joselito Amorim da UDN (União Democrática Nacional).
Chico Pinto, como comumente é chamado, foi preso, e a partir de seu relato pode-se ter uma noção do terror psicológico que passou, além da tortura física também ter sido uma constante. Através dos depoimentos das pessoas é possível ter uma dimensão do que estava acontecendo com a população, não era seguro ficar nas ruas especialmente pelo grande terror que eram as rondas policiais pela cidade.
Diversos militantes, principalmente do partido comunista, foram presos e torturados, seus relatos e de seus familiares são o maior foco em Chuvas de março. Entre eles aparecem nomes como Iara Cunha, ex-reitora da UEFS; Maria Santa Bárbara, mãe do guerrilheiro Santa Bárbara, o qual pertenceu à organização MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro) e que foi morto na operação militar Pajussara na Fazenda Buriti em 1971; e Torquato de Brito, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Entre os depoimentos mais marcantes estão os de Celso Pereira e o de Sinval Galeão, estudantes e militantes do PCB na década de 60. Os quais foram torturados juntos por militares, quando ainda eram adolescentes, em uma prensa de fumo, para que assim revelassem onde estavam as supostas armas reunidas por Chico Pinto.
Com seu enfoque no relato oral, o documentário consegue com maestria capturar as emoções das vítimas e de seus familiares, dando um panorama amplo do que foi o regime civil-militar na cidade de Feira de Santana. Além disso, traz para o debate falas dos apoiadores da ditadura, possibilitando a percepção de como tais contribuíram com esse regime que foi responsável pela morte e tortura de inúmeras pessoas. Nesse sentido, Chuvas de março se torna indispensável para a discussão do assunto.
REFERÊNCIAS
CHUVAS DE MARÇO. Produção e direção: Johny da Silva e Volney Menezes. Feira de Santana, 2002. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=FsLOyaT5o8A. Acesso em: 4 jan. 2024.
Créditos da imagem: Reprodução: Chuvas de Março. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=FsLOyaT5o8A.
Glaucia Elen Santos Xavier
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