Quem diz Estado, diz necessariamente dominação, eis por que somos inimigos do Estado.

Bakunin.

 

Certa vez cinco menininhos falavam de coisas abjetas como se fossem passarinhos. Falavam a partir da ranhura institucional ignorando a presença popular. Os três primeiros menininhos discursavam sobre armas, violência, ditadura e sangue, mas queriam mesmo era revelar a sua repreendida energia sexual primária pelo coturno e uniforme. Como bem sugeriu Adorno em seu texto Teoria freudiana e o padrão da propaganda nazista é preciso se atentar ao exército e as relações amorosas que devem se manter ocultas no inconsciente de seus membros. Estes grupos organizados não mencionam o amor entre os membros, ou se mencionam, é expresso de maneira sublimada e indireta a partir de mediações de imagens. O amor pela imagem é o que une os membros. Os outros dois menininhos discursavam sobre oásis, Suíça e a estável democracia assegurada pelo cumprimento dos direitos básicos que eleva o espírito de um povo inexistente na prática histórica. Dois desvairados herdeiros da mesma tradição ditatorial chilena. Um como Chuchuca-boy que aprendia economia com os EUA [?] para aplicar na América do Sul [?]. O outro uma caricatura do empresariado latino-americano e irmão daquele que ocupou o cargo de Ministro do Trabalho e Previdência Social, durante a barbárie ditatorial de Pinochet, responsável pelo modelo previdenciário amado e adotado pelo Chuchuca-boy. No fundo, cinco menininhos herdeiros de uma mesma tradição sanguinária-econômica e sanguinária-corpórea. Faço questão de reproduzir a fala de todos:

 

Jair Bolsonaro: Senhores e senhores. Pinochet fez o que tinha que ser feito, mas deveria ter matado mais gente. Ele teve que agir de forma violenta para recuperar o país. Bachelet diz que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época.

 

Eduardo Bolsonaro: Senhores e senhores. Pinochet foi o responsável por impedir que o Chile se convertesse numa nova Cuba.

 

Onyx Lorenzoni: Senhores e senhores. O Chile teve de dar um banho de sangue. Triste, o sangue lavou as ruas do Chile, mas já passaram oito governos de esquerda e nenhum mexeu nas bases macroeconômicas colocadas no Chile no governo de Pinochet.

 

Paulo Guedes: Senhores e senhores. O Chile virou a Suíça da América Latina após a implementação da capitalização para a Previdência.

 

Sebastián Piñera: Senhores e senhores. No Chile não vivemos as convulsões da América Latina. Nosso país é um verdadeiro oásis; com uma democracia estável; o país está crescendo; estamos criando 170 mil empregos ao ano; os salários estão melhorando.

 

Não foi preciso uma semana para que a declaração de Piñera mudasse de oásis para um campo de guerra. Não foi preciso nem um ano para os outros menininhos não soubessem mais o que falar sobre o Chile que não a patologia já conhecida. Agora quem pediu voz foram os populares. Aquela pequena parte esquecida nos discursos anteriores. No lugar da ranhura estatal apareceu a manifestação popular. Na rua. O resultado discursivo dos cinco menininhos foi de uma previsibilidade que beira a idiotice: arma, exército, Estado Emergencial, louvações à ditadura e, o mais evidente, o silêncio. O resultado prático é catastrófico: acordos econômicos irrisórios [com a estranha empolgação de setores políticos da oposição a Piñera]; criação de centros de tortura [Metro Baquedano] como já denunciado pelo INDH-Chile; estupros e a sumária eliminação de inimigos do Estado, ou seja, o seu próprio povo desarmado e sem medo. Em ato de maquiagem Piñera chegou a convocar a sua rival política, Bachelet, para voltar ao Chile com a Comissão de Direitos Humanos da ONU. A mesma que um dos menininhos excitados por coturno, sangue e armas acusou de filha de comunista e blá-blá-blá. Faço questão de reproduzir a fala e o silêncio de todos os menininhos que louvavam o Chile, ou melhor, louvavam a instituição estatal chilena e não a sua gente:

 

Jair Bolsonaro: Senhores e senhores. O problema do Chile nasceu em 1990, que ninguém dá valor para isso. Naquela época, as Farcs fizeram parte, Fidel Castro, isso tudo. E qual o espírito dessa questão? Primeiro é bater contrário às políticas americanas, imperialistas, segundo eles. E depois são os países que se auto ajudam para chegar ao poder.

 

Eduardo Bolsonaro: …

 

Onyz Lorenzoni: ...

 

Paulo Guedes:

 

Sebastián Piñera: Senhores e senhores. Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém, que está disposto a usar a violência e a criminalidade sem nenhum limite. Esta é uma batalha que não podemos perder, por isso o general Javier Iturriaga, chefe da Defesa Nacional, reuniu 9.500 homens para salvaguardar a paz, a tranquilidade, os direitos e liberdades.

 

Como entoa a gente chilena: NOS CANSAMOS, NOS UNIMOS.

 

 

 

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