Abri a janela dos olhos

Vi um arco-íris emoldurado

Vento forte, nimbos formando torres

Vaca deitada na grama, seriema piando repetido

Cigarra tocando trombeta, grilos cricrilando fino

Será que chove?

Com mais esse mormaço, bem capaz

As coisas e os seres em conluio se organizavam

Grilo, vaca, cigarra, seriema, vento, nuvem, arco-íris, mormaço

Bailarinos vivos, bem-dispostos, se deram as mãos, puseram-se enfileirados

E começaram a farândola, saltitando animados, serpenteando pra lá e pra cá

Vem dançar conosco, gritaram! Vamos, rapaz, que a vida é folia, movimento, alegria

De cá, da janela dos olhos, agradeci, mas recusei o convite, limitei-me a pasmar

O folguedo das coisas e dos seres dançando e chamando chuva

É que desanimei com as festanças

Perdi o traquejo, esqueci como se dança

Ademais, quanto à chuva, sei que pra mim, será módica

Aquelas velhas tempestades, cheias, bátegas, entusiasmadas

Essas já desapareceram, essas não mais virão

Quero os pingos esparsos, compactos, nutritivos

Esses permaneceram, esses me bastarão.

 

 

 


Créditos na imagem: Divulgação. La Farandole Des Pimperlots. Didier Hamey (2012)

 

 

 

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