HH Magazine
Poesia

Memória

 

Á Hebe Rôla

I

 

Pela janela,

Vi o vulto perdido.

 

Dona Quitéria faz o doce,

Goiabada pra festa.

 

Doce de leite esfria,

Açucarado no tabuleiro.

 

É fevereiro,

E nasceu o primeiro neto.

 

Na cria é cheiro de futuro,

Na janela: só vejo passado.

 

II

 

Pé de moleque

Pé de moleque levado.

 

Correndo pelas ruelas,

Da capital.

 

Corre corre

Que o tempo vem pegar.

 

Ninguém mais joga bola,

No adro da Igreja.

 

Mas as pedras ainda estão,

Pelas ruas e ruas.

 

Contando os segundos:

Passo a passo, entre os compassos.

 

III

 

Foi-se embora,

Pra lá ficou e morou,

Quando voltou:

Tudo mudou.

 

As ruas mudaram de cheiro,

As montanhas tingiram-se de marrom.

 

O sossego virou tormento,

O perdiz, maldição.

 

Nada mudou,

Tudo era igual,

Todo passado colonial;

Ali nos casebres velhos.

 

IV

 

Quando as rugas pesam,

E o corpo tomba.

 

Quando os cabelos grisalham,

E a voz enrouca.

 

A saudade da terra,

Faz reviver as lembranças.

 

A saudade da vó,

Faz comer goiabada.

 

V

 

Caminhando pelas ruas,

Pelas ruas de memórias.

 

Sentindo os cheiros,

E vendo um poeta

Olhar a janela,

Um fantasma o encara.

 

Pelas ruas coloniais,

Um fantasma ou outro sempre passa.

 

 

 


Créditos da imagem: Paisagem Imaginário (1947), Alberto Guignard.

 

 

 


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