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Nem sempre de saia: um mergulho na (auto) observação – o livro de Roberto Cordovani
Proust Suburbano

Nem sempre de saia: um mergulho na (auto) observação – o livro de Roberto Cordovani 

Quem já assistiu a espetáculos teatrais de Roberto Cordovani já sabe que ele, para além de atuar, escreve e dirige muitos, se não a maioria de seus trabalhos.

Durante o auge da pandemia de COVID-19, Cordovani foi entrevistado por Thalma Bertozzi e elaboraram o livro Infinitas Faces – A Construção do Ator (Magis, 2021), uma espécie de biografia, e de biografia artística mesclada com alguns conselhos a atores sejam iniciantes, sejam tarimbados.

No livro de Cordovani, há também ganchos, links, em que a entrevistadora (e redatora do texto final) tece paralelos entre a vida artística de Cordovani com a sua. Aspecto do livro que me furto a comentar, justamente por serem trechos que menos me interessaram e, penso, interessam menos ao público de Cordovani, seus seguidores, seus expectadores.

Para centrar atenção na biografia artística de Roberto Cordovani, na voz dele, deixo de lado a voz de Thalma Bertozzi.

O nome deste meu texto foi retirado de uma frase que Roberto me contou sua mãe proferiu ao Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, como resposta se ela se orgulhava do filho premiadíssimo.

Roberto me disse que a mãe respondeu: “sim, mas sempre de saia”. O tom de fala foi o de uma espécie de fazer o quê? Uma espécie de resignação.

Roberto Cordovani não está em cena sempre de saia. Fez e faz vários espetáculos em que atua dando vida à personae femininas, mulheres incríveis, fortes, marcantes, importantes, como a governanta em Amar Verbo Intransitivo (que adaptou e também dirigiu para o teatro), Greta Garbo, Eva Perón (que escreveu as peças e também dirigiu) etc. Mas, personae masculinas como em o Clube do Gelo (que também dirigiu) ou no mais recente Morte em Veneza (que assina em parceria com Vinícius Coimbra a adaptação para o teatro), em que faz o papel do escritor em férias que se apaixona por um jovem belíssimo. Isso, para não nos esquecermos do vilão da novela das seis, da Rede Globo de Televisão, Sebastião Quirino.

Nem sempre de saia, Roberto mostra em seu livro a versatilidade que vive no palco e fora dele como produtor, autor, diretor etc. etc. etc.

Fica evidente também em Infinitas Faces – A Construção do Ator que a observação e a auto-observação são mais que atitudes produtivas para a arte de Cordovani, são postulados de vida e profissão, sendo o maior tesouro que o relato do livro pode deixar a seus leitores junto com o “ouvir o outro”.

Mais que um método de trabalho, a observação é um modo de viver de Roberto. Daí eu destacar isso no nome de meu texto, como condensação de virtudes.

Em Infinitas Faces – A Construção do Ator, encontram-se narrativas de circunstâncias familiares, como em qualquer biografia. Relatos do início da vida de Roberto, início dos trabalhos em arte, particularmente artes cênicas, causos e supostas razões que levaram Cordovani a ser ator, assim como a ascensão de sua carreira, sua transferência para Europa, volta ao Brasil, suas parcerias, colaboradores etc.

Outro aspecto típico de biografias é o caráter exemplar da narrativa. Neste sentido, o livro de Cordovani, a voz dele emanada no livro, pode servir como exemplo para outros profissionais, amadores, ou apenas interessados.

O principal conselho, talvez, seja o que Roberto dá sobre o ator aprender a ser produtor teatral, ser realizador e viabilizador de seu trabalho, não esperar por convites para atuação.

No livro de Roberto Cordovani, vemos um garoto diferente, um adulto diferente, um ator singular, um ser maduro raro. Versátil? Acho que o qualificativo versátil não dá conta da complexidade e da completude da persona e do artista Roberto Cordovani.

Ele está em Infinitas Faces como um ator mais do que ator. Um artista completo, um artista pleno, povoado de grandes artistas, grandes textos, grandes obras, nem sempre de saia, mergulhado sempre na alma dele e das pessoas.

 

 

 


Créditos na imagem: Quem. Roberto Cordovani, vilão em ‘Novo Mundo’, fala sobre carreira: “Estou amando fazer TV brasileira”. Por Beatriz Bourroul. 2017.

 

 

 

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