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Poesia

No interior de mim

 

Bem aqui dentro

No interior de mim

Há um canto assim:

Onde cheira a mato

E a terra molhada,

Onde cantam pássaros

Grilos e cigarras, e

Onde o sol gentilmente

Se retira para o luar brilhar

E pratear todo o lugar.

 

Há uma igrejinha

Para o povo rezar.

Um cruzeiro na pracinha,

Alguns bancos,

Um pipoqueiro,

Casais a namorar e

Crianças correndo

Para lá e para cá.

 

No interior de mim

É sempre junho,

Tempo fresco,

Por vezes frio.

Manhã orvalhada

Pelo sereno da madrugada.

Cadeiras na calçada,

Uma prosa pelo ar.

Café cheirando ao longe

E bolo de fubá.

Há amor de mãe

Me chamando pra almoçar

E vó contando histórias

Que eu amo escutar.

 

Tem sino às seis da tarde

Na igreja a badalar.

Trezena de Antônio,

Ladainhas entoadas,

Procissão a caminhar.

 

No interior de mim

O peito do céu

É repleto de estrelas,

Que brilham como

Os vagalumes que

Brincam nos meus quintais.

 

No interior de mim

Os dias são de muita paz.

E quando a noite chega

Dos braços do meu benzinho

Não saio jamais.

 

Há um canto assim.

No interior de mim.

 

 

 


Créditos na imagem: Candido Portinari. Brodowsky, 1942.

 

 

 

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