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Proust Suburbano

POLLYANNA BOLEIRA & ALGUNS POEMAS DA COPA FIFA 2022

 

  1. Tá Tite? Fica Tite não. [1]
  2. Reconheço o mérito da Croácia.
  3. Agora é ler o poema sobre a arte de perder.
  4. Jura que vão caçar bruxas? Que vão achar bode expiatório? É possível ver onde se perde? Mas fazer esse exercício agora?
  5. Ao menos na próxima Copa não vai ter nem Galvão, nem o Neymar. Não aguentava mais eles.
  6. E os engenheiros de obra pronta? Pode isso, Arnaldo?
  7. Às vezes, se lida de modo simplista e imaturo em situações de derrota no esporte. Eu vi a seleção de futebol masculino ganhar duas Copas FIFA. Eu comecei a seguir Copa em 74, quando perdemos do Carrossel Holandês. Sou calejado. Só perde quem compete. A Itália nem se classificou.
  8. Jura que vocês vão lidar com a derrota a partir de uma argumentação por pensamento mágico? Se for assim, a alma sebosa que me assediou hoje pouco antes do jogo é culpada pela derrota. E, se for assim, eu sou culpado porque mudei minha rotina antes do jogo. E, se for assim, eu bem que avisei que era pra eu estar sozinho em casa nesta Copa.
  9. Vocês já pediram Renato Gaúcho como próximo técnico da seleção? Ou vão pedir um técnico português?
  10. Argentina também maltratou gato? Não. Foi a Holanda quem também maltratou. O gato. E a bola.
  11. Ao menos a seleção da Argentina avançou.
  12. Ao menos o sonegador não será campeão.
  13. Quem não tem psi sofre com psit.

Espanha sob vaias

Ganhando ou não

Já escrevi este poema

E às touradas de Madrid

Eu fui

 

Espanha sob vaias

Atravessa o deserto

Do Saara

Mas não rompe as linhas de Marrocos

 

Espanha sob vaias

O diabo da linguagem

No Baile é

Ettore Scola

 

Espanha sob vaias mantém

A posse de bola

Mas não guarda

Brasil sob vaias camaronesas

O acaso não aboliu

O gol fortuito

 

Embora desejado

 

O imponderável

Foi do instante-já

A bola nas costas do zagueiro

 

Copas não se improvisam

Copas abrigam pássaros que miam

Gatos que cantam

 

E cães que arranham gatos

 

O acaso, o imponderável, o inesperado

São brecha, brenha, breu

Onde o tento é guardado

Espanha sob vaias

Japonesas

O diabo da linguagem

É dois a um

 

Tik Taka

E Tanaka

Alemanha fora das oitavas

 

Espanha sob vaias extenuadas

No Mundial das arábias

Me levou às toradas de Madrid

Bélgica sob vaias

Croatas

 

O diabo da linguagem

É zero a zero

 

Camisa 9 no sacrifício

Time fora das oitavas

 

Bélgica sob vaias

Do horizonte

De expectativas

 

Promete, mas

Não cumpre

Bélgica sob vaias

Marroquinas

 

O diabo da linguagem

É 9 na pequena área

Máquina de ritmo

Pés de Mercúrio

Pô de Pirlimpimpim

França sob vaias

Tunisianas

 

O diabo da linguagem

É chute da entrada da área

 

Salto alto

Pen drive

Escritor de ofício

volante

avançado gol

A carne revestida

D’ ouro

E o pescoço a prêmio

D’ outro

A medalha de ouro

O Pulitzer

Ao jornalista esportivo

O escrete

A recusa do trocadilho

Com o escroto

A carne indigesta

A carne paga com o dinheiro

D’ outro?

A carne mais barata

O dedo que aponta

Ouro de tolo

 

A cena do restaurante

No Sentido da Vida.

GENIAL

 

Gênios da pintura

Gênio da lâmpada

Gênio a pulsar em si

 

(Em mim dizia

Sentir Castro Alves sobre si

Mesmo)

 

Agudo

 

Em outra balança

Pesa, não barroca,

pedra de agudeza

 

O gênio do ludopédio

De Três Corações

A santista

 

Agudo era Velásquez

Espelho por onde o gol

Ainda entra

 

/Extra/

Assim como literatura nacional é uma coisa romântica, seleções nacionais com seus hinos nacionais também são modos românticos de expressão. O romantismo precisa acabar.

 

 

 


NOTAS

[1] Esta coluna foi encerrada antes da final Argentina X França. Como diria Pollyanna Boleira, ao menos ninguém perdeu ainda.

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Taça da Copa do Mundo — Foto: VI Images via Getty Images

 

 

 

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