- Tá Tite? Fica Tite não. [1]
- Reconheço o mérito da Croácia.
- Agora é ler o poema sobre a arte de perder.
- Jura que vão caçar bruxas? Que vão achar bode expiatório? É possível ver onde se perde? Mas fazer esse exercício agora?
- Ao menos na próxima Copa não vai ter nem Galvão, nem o Neymar. Não aguentava mais eles.
- E os engenheiros de obra pronta? Pode isso, Arnaldo?
- Às vezes, se lida de modo simplista e imaturo em situações de derrota no esporte. Eu vi a seleção de futebol masculino ganhar duas Copas FIFA. Eu comecei a seguir Copa em 74, quando perdemos do Carrossel Holandês. Sou calejado. Só perde quem compete. A Itália nem se classificou.
- Jura que vocês vão lidar com a derrota a partir de uma argumentação por pensamento mágico? Se for assim, a alma sebosa que me assediou hoje pouco antes do jogo é culpada pela derrota. E, se for assim, eu sou culpado porque mudei minha rotina antes do jogo. E, se for assim, eu bem que avisei que era pra eu estar sozinho em casa nesta Copa.
- Vocês já pediram Renato Gaúcho como próximo técnico da seleção? Ou vão pedir um técnico português?
- Argentina também maltratou gato? Não. Foi a Holanda quem também maltratou. O gato. E a bola.
- Ao menos a seleção da Argentina avançou.
- Ao menos o sonegador não será campeão.
- Quem não tem psi sofre com psit.
…
Espanha sob vaias
Ganhando ou não
Já escrevi este poema
E às touradas de Madrid
Eu fui
Espanha sob vaias
Atravessa o deserto
Do Saara
Mas não rompe as linhas de Marrocos
Espanha sob vaias
O diabo da linguagem
No Baile é
Ettore Scola
Espanha sob vaias mantém
A posse de bola
Mas não guarda
…
Brasil sob vaias camaronesas
O acaso não aboliu
O gol fortuito
Embora desejado
O imponderável
Foi do instante-já
A bola nas costas do zagueiro
Copas não se improvisam
Copas abrigam pássaros que miam
Gatos que cantam
E cães que arranham gatos
O acaso, o imponderável, o inesperado
São brecha, brenha, breu
Onde o tento é guardado
…
Espanha sob vaias
Japonesas
O diabo da linguagem
É dois a um
Tik Taka
E Tanaka
Alemanha fora das oitavas
Espanha sob vaias extenuadas
No Mundial das arábias
Me levou às toradas de Madrid
…
Bélgica sob vaias
Croatas
O diabo da linguagem
É zero a zero
Camisa 9 no sacrifício
Time fora das oitavas
Bélgica sob vaias
Do horizonte
De expectativas
Promete, mas
Não cumpre
…
Bélgica sob vaias
Marroquinas
O diabo da linguagem
É 9 na pequena área
Máquina de ritmo
Pés de Mercúrio
Pô de Pirlimpimpim
…
França sob vaias
Tunisianas
O diabo da linguagem
É chute da entrada da área
Salto alto
Pen drive
…
Escritor de ofício
volante
avançado gol
…
A carne revestida
D’ ouro
E o pescoço a prêmio
D’ outro
A medalha de ouro
O Pulitzer
Ao jornalista esportivo
O escrete
A recusa do trocadilho
Com o escroto
A carne indigesta
A carne paga com o dinheiro
D’ outro?
A carne mais barata
O dedo que aponta
Ouro de tolo
A cena do restaurante
No Sentido da Vida.
…
GENIAL
Gênios da pintura
Gênio da lâmpada
Gênio a pulsar em si
(Em mim dizia
Sentir Castro Alves sobre si
Mesmo)
Agudo
Em outra balança
Pesa, não barroca,
pedra de agudeza
O gênio do ludopédio
De Três Corações
A santista
Agudo era Velásquez
Espelho por onde o gol
Ainda entra
/Extra/
Assim como literatura nacional é uma coisa romântica, seleções nacionais com seus hinos nacionais também são modos românticos de expressão. O romantismo precisa acabar.
NOTAS
[1] Esta coluna foi encerrada antes da final Argentina X França. Como diria Pollyanna Boleira, ao menos ninguém perdeu ainda.
Créditos na imagem: Reprodução: Taça da Copa do Mundo — Foto: VI Images via Getty Images
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Eduardo Sinkevisque
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