No interior de cada cidade corre um rio de morte
Que passa, com suas águas tristes
Lambendo a terra cansada de injustiças
Deixando a quem passa o ar de socorro
O grito de algum morto
O eco dos olhos que ali choraram
O rio que fraco bombeia o sangue mais antigo da cidade
Num cortejo em direção ao precipício humano
Quem há de ver?
Quem há de sentir as dores da Terra?
Suas veias drenadas, apodrecidas estão as águas
Seus órgãos minerados, a pele dissecada
Os olhos da altiva cidade já não veem que o rio morre
E que há um canto ali contido
Uma poesia triste que um indígena lê e tlera sente. [1]
O vento atiça o rio, que vibra o ventre de quem ouve sua voz
E as plantas, como amigas, o acodem
Fazem companhia, como no leito de morte
Pois, no interior de toda cidade
Corre um rio – como escorrem os nomes
No interior de cada cidade, corre um rio
Um rio e alguém em luto,
Um rio morto que aponta para o Norte
NOTAS
[1] “tlera”, em kwaytikindo, língua Puri, significa “muito”.
Créditos na imagem: Reprodução. Diego Rivera. House over the Bridge. (c. 1909)
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