Cansei de falar sobre política. Acho que os Bolsonaro’s Family não me ouvem. Então farei uma breve incursão sobre um fato que aconteceu em 2018. Algo fugaz como solicita uma crônica. Algo que voltará a ocorrer como solicita o mundo. Algo voltado à educação como solicita o magistério. Trata-se, no fundo, de uma cotidianidade que se repete de quatro em quatro anos. Faço o álbum da copa desde 1994. Figurinhas que não eram autocolantes. Estátua da Liberdade na capa com uma diagramação típica de Power Point. Apenas uma frustração me acompanha desde então. O álbum da copa de 1998 eu não fiz. Tinha 13 anos e álbum era coisa de criança. Os outros álbuns de 2002 a 2014 eu havia voltado a ser criança então os fiz. 2018. Rússia. Cheguei animado em mais um álbum revelando que vivi outros 4 anos. Aumentaram as figuras cromadas. Certa sessão na última página do álbum coroa os grandes feitos das copas anteriores. Uma forma de colocar a seleção italiana em algum lugar já que na copa não está. Pacotes com 5 figurinhas por 2 reais. Tudo novamente. O momento mais esperado é o das praças cheias para trocar as repetidas. Bancas de revistas revivem seus momentos de glória como os tempos de Carmine Labanca. Algo interessante acontece nestes espaços. A formação de grupos que possuem regras próprias na arte de trocar figurinhas. É aqui que manifestarei meu desencanto com o modo como nossas crianças continuam sendo educadas. Já pertenço ao grupo daqueles colecionadores chatos, eu sei. Só troco minhas figurinhas com àqueles que atendem ao chamado do “uma por uma”. Todas as figurinhas tem peso 1 na hora de trocá-las. Cromadas, seleções, estádios ou jogadores. Dou uma e pego uma. Busco completar um álbum de copa e não concentrar figuras e especular o mercado paralelo. Este código de honra “uma por uma” não é seguido por todos. Digo com grande pesar que são as crianças que traem este código com mais facilidade. Não sozinhas e desacompanhadas. Com a presença tutorial de seus pais que riem diante da obscenidade de seu filho exigir mais de 10 figurinhas em troca de um brasão qualquer. Esta vale mais. É cromada, dizem. Clara exploração que em termos econômicos faz 0,40 centavos virarem 4 reais. Seria apenas um modo de diversão, diriam alguns. Discordo totalmente. Há uma educação propagada pelos adultos perpassando todos estes atos. A educação de que crianças explorem outras crianças num ato que exclui a noção de cooperação e solidariedade. O que vale é a formação de um indivíduo que acumula e se apropria do lucro ou do roubo. Um verdadeiro peão de tabuleiro que mede o sucesso pelo reinado único. Auto interesse. Existe até mesmo uma categoria de proto-capitalistinhas que detém montes de figuras cromadas com o intuito de angariar dezenas de outras figuras a partir do monopólio de distribuição. O álbum é só um instrumento. O que está posto é o anseio de se mostrar maior. Reduzir as relações humanas ao nexo monetário. Eu não troco figuras assim. É um não para o modo educacional que desde cedo e a partir de meras figurinhas naturaliza a contradição social básica entre a apropriação e a cooperação. Talvez fui longe demais. Talvez não passe de um colecionador chato. Talvez.
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Thiago David Stadler
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História da Historiografia: International
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Grande. Adorei!
Obrigado! Grande abraço.