Um conto sobre o vírus e o verme

O Brasil está acometido por dois tipos de doenças. Recentemente, Fernando Haddad resumiu a situação em termos precisos: “É duro lidar com um vírus e um verme, simultaneamente”[1]. O primeiro está causando mortes, pânico e quarentenas. O segundo é um presidente que propaga desinformação e está tomando medidas que agravarão ainda mais as consequências da pandemia.

Jair Bolsonaro não apenas subestimou o impacto da covid-19, que já se espalhou por todo o país. Ele também anunciou medidas econômicas que irão causar mais mortes em uma sociedade profundamente desigual. Paulo Guedes, ministro da economia, ofereceu um “auxílio” de R$200 por mês para trabalhadores informais, um valor irrisório que não é suficiente para pagar as contas de internet, quanto mais água, sem mencionar o aluguel[2]. O governo também prometeu recursos para a saúde pública, mas que são insuficientes diante do sucateamento do SUS nos últimos dois anos[3]. Universidades e cientistas continuam a ser desvalorizados e tratados como inimigos públicos. Mas eles resistem porque não é hora de se lamentar, mas de agir.

O Brasil agora está diante da escolha entre quem irá morrer pelo vírus ou quem morrerá de fome devido às iniciativas do governo. Felizmente, porém, a população está resistindo cada vez mais. A reação pública foi a principal causa para a revogação da medida provisória que permitiria às empresas suspender os contratos com os empregados por quatro meses sem pagamento de salário[4]. A rejeição da população foi tamanha que a equipe econômica foi forçada a dar um passo atrás e revogar esse absurdo.

São muitos os descontentamentos. O Brasil está enfrentando o covid-19 entre tantas outras crises. “Crise”, aliás, parece ser o lema do país nos últimos dias, semanas, anos: há quanto tempo vivemos em crise? Mas, para parafrasear Gonzaguinha, é preciso “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. Bater as panelas nas janelas e repetir: “Fora Bozo!”