Era manhã do dia 13 de maio, um dia especial. Acomodei-me no sofá da sala à espera do café e fiquei a pensar na vida… Aquele cheirinho de café fresco, que vinha visitar meu olfato, me transportou para outra dimensão. De repente, em questão de segundos, eu estava em uma fazenda, dessas do final de um século que, para um povo sofrido, significou a liberdade. Não sei dizer onde fica, nem a quem pertence. Não me importa quem seja o dono, não me importa a casa-grande. Afinal, o cheirinho de café, vinha de uma singela cabana nas dependências da fazenda.
Caminhei em direção ao humilde local. À medida que me aproximava, o cheiro do café fresco aumentava. Senti, também, o cheiro de fumaça de cachimbo. A mistura dos cheiros de ambos criou uma atmosfera indescritível. A noite chegava lentamente, como se o tempo, ali, andasse bem devagar. Devagar andavam, também, os moradores daquele lugar. A porta estava aberta e pude observar um casal de velhinhos, negros como a noite que chegava. Apesar de serem pessoas simples e sofridas, meu coração disparou, bateu descompassado. No fundo eu sabia da realeza espiritual dos habitantes daquela simples cabana.
Humildemente pedi licença e entrei. Ao longe, o sino de uma igreja anunciava a hora de Maria, seis da noite, ou da tarde, como queira o leitor. Os anciãos oravam à Virgem do Rosário, rendiam graças pelo dia 13 de maio, agradeciam pela redentora liberdade. Ao fim da oração, me cheguei pra perto dos velhos, e sem saber o que lhes dizer, comovido por aquela atmosfera, tão somente lhes pedi a bênção, como fazemos com os mais velhos.
O preto-velho, então, me abençoou, rogou a São Benedito que nunca faltasse o pão à minha mesa. Enquanto a fumaça de seu cachimbo me envolvia, purificando todo o meu ser, ofereceu-me do seu café. Tomei alguns goles, comunguei da sua paz. A preta, tão velhinha, também me abençoou. Rogou à Virgem Santíssima que não me faltasse saúde e paz. Com um galho de arruda cruzou meu corpo e protegeu-me contra os males deste mundo e do outro. Minha vontade foi, naquele momento, ficar por algumas horas ali, mas não era possível. Meu tempo era outro. Novamente, sem nada dizer, apenas com os olhos e com um leve aceno, me despedi. Voltei ao meu tempo. Tomei o meu café e iniciei meu dia com a paz que só os pretos-velhos sabem transmitir. Eles estavam comigo.
Aos meus queridos pretos-velhos, uma coité com café fresco e a gratidão pela vida, pela saúde, pelo pão, pelo amor e pela humildade ensinada. Saravá!
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Tadeu Goes
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Journal of Theory and History of Historiography
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Viajei com você nessa atmosfera. Belíssimo texto!