.

1

 

As pedras transpiram lágrimas

infernais.

queimam os olhos feitos de sal

dão

as pastas de medo tracejadas pelo lirismo do isolamento

(d)as flores que morrem

nos calcanhares das manhãs

 

 

2

 

Dentro da circunferência as plantas

infrutíferas fabricam ramos de ferro

que amarram ou enrolam as flores apedrejadas

pelo ardor da régua tempestade

onde as suas folhas abrem-se para

a arqueologia do voo rasante do

silêncio.

 

 

3

 

Na circuncisão da

noite

escapam lágrimas enlouquecidas

pela dor do parto à

cesariana

 

 

4

 

Traçar a fogueira das madrugadas

em volta

dos acres espinhos

refinados pelo escuro

dilema da morte

a costurar-se nos semáforos do tempo.

 

 

5

 

Na gélida folhagem

as sementeiras

agudas

da memória

poisam serpentes

de cérebros esburacados

por submarinos da solidão

 

 

6

 

O silêncio

dispensa

o carnaval dos choros

e em

seguida

conquista

a ausência com o desejo

de electrocutar a chuva

o abismo

 

 

7

 

E por fim

os homens trovejam esperanças

na folha em branco de geometrias

infernais

em pleno cataclismo do abandono

içada

ao alto

no horizonte das lágrimas estateladas

na sólida estrada da solidão .

 

 

8

 

A nostalgia soçobra nas sombras do mar

uma noite deserta de silêncios lateja

nos infinitos ouvidos do poço

fora do núcleo terrestre

as pedras voam em direcção

ao fim da partida

como um barco sem leme

a procura do exílio nas portas do vento

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Foto: Jorge Meis.  Sal en la memoria. Nostalgia del mar, 2020.

 

 

 

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