Reinhart Koselleck (1923-2006) foi um historiador alemão, cujas teorias e obras desempenharam um papel fundamental na compreensão do conhecimento histórico contemporâneo. Através da análise de como as categorias temporais moldam a percepção e a representação do passado e do futuro, suas contribuições enfatizaram a importância do tempo e das estruturas conceituais na construção do conhecimento histórico. A abordagem de Koselleck trouxe, assim, uma nova perspectiva para a pesquisa histórica, demonstrando que o conhecimento do passado é um processo dinâmico, influenciado pelas estruturas conceituais e pela evolução da linguagem.
As ideias de Koselleck continuam a ser uma referência importante para historiadores e pesquisadores interessados em explorar a complexidade da experiência humana através do tempo. Ainda hoje, suas pesquisas sobre as molduras temporais, a linguagem e as mudanças semânticas servem como ferramentas analíticas para desvendar o tempo histórico e ampliar o escopo da disciplina. As contribuições de Koselleck permitem, assim, uma compreensão mais profunda e matizada das sociedades passadas e presentes, ajudando a desafiar visões simplistas do passado e a contextualizar os eventos históricos dentro de suas complexas molduras temporais e semânticas.
Foi pensando como essas contribuições podem proporcionar uma compreensão mais profunda das transformações temporais que preparamos esta lista com sete artigos sobre Reinhart Koselleck e o conhecimento histórico. Nesta bibliografia comentada, trazemos indicações de artigos da revista História da Historiografia fundamentais para vislumbrar as influências que a teoria de Koselleck continua a exercer na historiografia contemporânea. Os artigos reunidos são leituras que proporcionam uma compreensão mais profunda das transformações históricas e enriquecem o nosso conhecimento da história humana em seus diferentes contextos sociais e políticos.
Confira!
1) A crítica de Reinhart Koselleck à primazia hermenêutica: um outro olhar sobre a controvérsia com Hans-Georg Gadamer
Gabriel Barroso Vertulli Carneiro
O debate Koselleck/Gadamer ganhou contorno principalmente a partir da fala do historiador alemão em um evento em homenagem aos oitenta e cinco anos de Gadamer. É através dessa discussão que o artigo de Gabriel Carneiro pretende analisar a crítica koselleckiana à pretensão universalista da hermenêutica.
A partir do exame de alguns aspectos do embate de Koselleck com Hans-Georg Gadamer, o artigo se divide em quatro partes. Primeiramente, o autor analisa como Koselleck se apropriou da filosofia de Martin Heidegger ao fazer uma leitura incomum de Ser e tempo. O objetivo seguinte é mostrar como a crítica à hermenêutica gadameriana foi construída. No terceiro momento, é apresentada a “tensão” constitutiva de todo labor historiográfico. Por fim, através de um trecho de um romance de Hermann Hesse, o artigo ilustra o argumento koselleckiano sobre o sentido (Sinn) e o não sentido (Unsinn) na história. A hipótese de Carneiro é de que talvez Koselleck e Gadamer concordassem um com o outro, mas que estavam apenas olhando o problema a partir de prismas diferentes.
2) O debate entre Hans-Georg Gadamer e Reinhart Koselleck a respeito do conhecimento histórico: entre tradição e objetividade
Reinhart Koselleck e Hans-Georg Gadamer participam de um amplo debate sobre as consequências da consciência histórico-científica para as direções adotadas pelo mundo moderno. Essas duas abordagens interpretativas e suas distintas implicações para a disciplina histórica constituem o cerne da problemática abordada por Luisa Rauter Pereira neste artigo.
O artigo analisa o debate travado pelo Historiador Reinhart Koselleck e o filósofo Hans-Georg Gadamer a respeito do conhecimento histórico. Pereira investiga as origens comuns do pensamento e do contexto sócio-intelectual em que os dois autores produziram suas obras. Através do vigoroso debate travado entre eles, a autora apresenta as duas diferentes visões e interpretações sobre o conhecimento histórico. A hipótese é que essas reflexões filosóficas de Gadamer e a historiografia de Koselleck incitam a uma orientação da disciplina histórica para a “reinterpretação criadora das heranças culturais” como atitude importante na criação de novas perspectivas de futuro, novas formas de pensar e agir.
3) Crise da modernidade em perspectiva histórica: da experiência empobrecida à expectativa decrescente do novo tempo
A evolução problemática da crise revela-se como uma questão estrutural enraizada em uma lógica irracional que luta para resolver suas próprias contradições internas. Nessa linha de análise crítica, Yuri Martins Fontes examina as perspectivas de Benjamin, Koselleck e Arantes, lançando luz sobre a contínua progressão da crise que permeia a modernidade.
Ao investigar os aspectos históricos e filosóficos da crise moderna que se faz presente, o autor parte da interpretação de W. Benjamin sobre o definhamento da experiência nos tempos modernos. O objetivo inicial é mostrar como essa ideia foi depois desenvolvida por Koselleck, que a relaciona à ideologia burguesa do progresso técnico, com sua inflada expectativa. Em seguida, o artigo volta-se ao contemporâneo, expondo a atualização que P. Arantes, em diálogo com ambos, oferece deste fenômeno na época pós-globalização. O panorama oferecido por Fontes mostra como a duradoura “crise da modernidade”, diante da civilização ocidental capitalista, avançou sobre qualquer mínima pretensão de reforma social, esvaziando a utopia moderna.
4) A recepção da história dos conceitos na Espanha. Na encruzilhada entre a reflexão teórica e a aplicação prática
A história dos conceitos é uma abordagem que investiga como os conceitos são moldados por contextos históricos específicos e como eles influenciam a compreensão das pessoas sobre a realidade. No âmbito deste estudo, o artigo de Luis Torres explora uma vertente da história dos conceitos desenvolvida por Reinhart Koselleck.
O artigo procura traçar o périplo da história dos conceitos mundo acadêmico espanhol, incorporando os inícios de sua recepção, os resultados materiais da aplicação de sua proposta e um esboço dos grupos de investigadores que aproveitaram criticamente sua obra. Neste sentido, Torres destaca especialmente dois perfis, que se correspondem com filiações acadêmicas distintas: uma vertente vinculada à filosofia e outra de corte historiográfico, que refletem, por sua vez, a riqueza de uma obra como a koselleckiana. Para o autor, essa diversidade de componentes se manifesta na constituição de um potente corpo teórico combinado a um elaborado aparato metodológico, que pode oferecer uma base capaz de explicar processos complexos de longo prazo sem ficar subordinada a conceitos específicos.
5) Reformulando los conceptos asimétricos: la simetría de la asimetría
Os conceitos assimétricos definidos por Reinhart Koselleck podem ser úteis como ferramentas analíticas para refletir as estruturas de dominação contidas na linguagem e nos próprios conceitos. É a partir dessa metodologia desenvolvida por Koselleck que Ana Manso analisa a estrutura semântica na qual a assimetria dos conceitos está enraizada.
Com base no estudo koselleckiano sobre as relações simétricas e assimétricas, o artigo apresenta as diversas problemáticas que cercam a definição e o possível uso das assimetrias conceituais. Em seguida, a autora foca essa abordagem teórica ao colocá-la em prática usando um único conceito, o de “nobreza”, como conceito assimétrico, por parte de duas correntes do liberalismo na primeira metade do século XIX na Espanha. A ideia central de Manso é propor que um único conceito pode desempenhar o papel de um par de conceitos antagônicos, dado as diferentes cargas valorativas que dois grupos em conflito atribuem a ele.
6) Tempos históricos plurais: Braudel, Koselleck e o problema da escravidão negra nas Américas
Waldomiro Lourenço da Silva Júnior
A análise dos estratos temporais que constituíram o cativeiro das populações de ascendência africana no Novo Mundo pode nos orientar para uma nova agenda de pesquisa. Sob esse referencial teórico, Rafael Marquese e Waldomiro Silva Júnior exploram as interligações entre as formulações de Fernand Braudel e Reinhart Koselleck concernentes ao tempo histórico.
O objetivo do artigo é analisar o período do escravismo a partir das contribuições de Braudel e Koselleck sobre os estratos temporais. Na primeira parte, após apresentar os aspectos centrais do modelo braudeliano, os autores demonstram a forma como Koselleck se apropriou dele, renovando e radicalizando-o mediante um duplo procedimento de condensação e complexificação. Posteriormente, Marquese e Silva Júnior exploram as potencialidades da teorização braudel-koselleckiana no campo específico da escravidão negra nas Américas. Ao evidenciar esses diferentes estratos de tempo, o artigo defende, portanto, uma agenda de pesquisa capaz de lançar novas luzes para os diferentes períodos do escravismo atlântico.
7) Tempo e crise na teoria da modernidade de Reinhart Koselleck
É possível dizer que Reinhart Koselleck é uma figura bem conhecida no âmbito acadêmico contemporâneo da história e das ciências humanas no Brasil. Com base em suas contribuições teóricas e metodológicas, João Duarte se propõe a explorar dois aspectos constitutivos da “teoria da modernidade” proposta pelo historiador.
O artigo procura demonstrar que Koselleck, ao mesmo tempo em que saúda a descoberta/invenção de uma “história humana”, condena a instrumentalização política como o vetor de uma crise que se estende da Revolução Francesa até a Guerra Fria. Para tal, Duarte destaca dois pontos da teoria koselleckiana de modernidade: O primeiro corresponde à sua interpretação da emergência da noção de “tempo histórico”; e o segundo, a seu argumento acerca da tendência moderna a recorrer a filosofias da história para sustentar programas de ação política. Como conclusão, o argumento do autor sugere alguns pontos de aproximação entre a visão da modernidade de Koselleck e aquela de sua conterrânea e contemporânea, Hannah Arendt.
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Ilda Renata Andreata Sesquim
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