(Para João da Cruz e Sousa)

vez por outra me lembro dele

do poeta João

do triste João

vejo-o sob uma vela no Encantado

cerzindo seus versos-testamento

manchados de sangue e escarro

vejo seu corpo morto

varando a noite imensa

no vagão estelar das almas

vacas e cavalos assistem

contritos, complacentes

o trem some na curva

dorme, João!

dolências de lírios

te abracem

volúpicos venenos

te embriaguem, meu poeta

tudo é mistério.

*Goiânia, dezembro/2023

 

 

 


Créditos na imagem: Ilustração: Nato Gomes