Missiva ao morto

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Não, Carlos, o amor não bate na aorta

amor é bem escolhido

é sexo escondido

ele não toca a sua porta.

Ele usa aplicativo.

Não suspende mais nenhuma saia

nem tira óculos.

Não pula mais muros

nem propõe geometrias.

Ele é menu à la Carte

de peitos, bundas e pernas,

onde em corpos e pedaços destes,

Não se vê nenhuma alma.

O amor, Drummond,

o amor estrepou-se sim.

Perdeu sua face em tal espelho

que nem Joana, a louca de Espanha,

Vai encontra-lo mais.

Não adianta ir pra Pasárgada

nem se jogar de um prédio.

O amor, Andrade?

Foi-se embora do futuro.

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução. Piękno umysłu. Disponível em https://pieknoumyslu.com/sztuka-kochania-wedlug-ericha-fromma/

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Isaías Gabriel Franco

Graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto - Instituto de Ciências Humanas e Sociais; especialista em Música e interdisciplinaridade pelo Departamento de Música do Instituto de Filosofia, Arte e Cultura- IFAC - UFOP. Atualmente cursa Filosofia e mestrado acadêmico em História pela mesma instituição.

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