I started a joke/ Which started the whole world crying
But I didn’t see/ That the joke was on me

I started to cry/ Which started the whole world laughing
Oh, if I’d only seen/ That the joke was on me

(Bee Gees)

 

Eu começo com a confissão de que não desejava escrever esta resenha. Mas eventos recentes me impeliram a publicar meus dois centavos sobre o segundo filme do Coringa, de Todd Phillips e Joaquin Phoenix. Antes, contudo, me permito levantar algumas questões. O que faz de um filme um “bom filme”? O que faz um filme ser considerado “ruim”? É tudo mérito ou demérito da produção, direção, atores e atrizes, edição, roteiro, enredo, trilha sonora etc.? A crítica especializada definirá o julgamento? Ou o imperioso juízo do “gostei” ou “não gostei” da nossa era individualista e pobre dos influencers bastaria? Cabe alguma coisa nesse caldo para nós, os espectadores ativos? Nossas expectativas dizem algo sobre a forma como recebemos um artefato cultural (filme, música, álbum, peça de teatro, etc.)? Qual a relevância de um julgamento assim tão sumário como “é bom” ou “é ruim”? Por fim… Importa tanto assim dizer se o filme é bom ou ruim? A quem?

Não é segredo algum. O segundo filme de Joaquin Phoenix como o Coringa foi majoritariamente rejeitado pelo público nas salas de cinema no mundo todo. Críticas severas, reviews venenosas, todos os tipos de observações críticas e pseudo críticas, memes e piadas apareceram como avalanche nas redes sociais, algumas até mesmo antes do filme ser lançado no Brasil – o que impactou enormemente a bilheteria. Poucas resenhas foram generosas, apesar de econômicas, com o filme. Rumores de fracasso e de que bombar na bilheteria levaria os estúdios a abandonarem essa linha do personagem. Muitos sequer se deram ao trabalho de assistir ao filme devido a essa repercussão. Diante deste quadro, a seguinte frase me veio à cabeça: “Não cabe aos artistas dar aquilo que o público quer”, ou qualquer outra versão nessa mesma linha, que serve ao propósito. Destacarei o nome de Alan Moore como uma das vozes que a verbalizou.1 Sim, o conhecido roteirista de quadrinhos e autor, entre muitas outras, de A Piada Mortal (DC Comics, 1986), e crítico mordaz há décadas dos quadrinhos e, principalmente, dos filmes de super-heróis que tomaram conta da cultura de massas.

Avaliar um filme como Coringa: Loucura a dois (Phillips, 2024), portanto, não poderia ser um exercício simples apoiado no aparente consenso de sua “ruindade”, menos ainda no juízo do é do meu gosto ou é de “mau gosto”, no desvairado tribunal da internet. Carece de “contexto”. “Afinal”, como Nietzsche asseverou, “a estética não passa de fisiologia aplicada”.2 E o contexto social, político, econômico e estético da décadense em que se passam as tramas dos dois filmes do Coringa, parecem espelhar bem os contextos em que as salas de cinema que os exibiram se localizam.

Senti-me tentado a dizer que todo o roteiro de Coringa: Loucura a dois encontra-se sintetizado na letra da música dos Bee GeesI started a Joke” (1968).3 Talvez esteja, mas não apenas isso. O filme é uma continuação desnecessária. E voluntariamente todos os envolvidos na produção pareciam saber disso. Arrisco dizer que a produção seguiu adiante para reforçar esse ponto. Mas o ponto é que os filmes de Todd Phillips elevaram essa crítica (inicialmente, como homenagem ao Martin Scorsese) para o público de quadrinhos e dos filmes de super-heróis de modo muito criativo e competente. Ou seja, no segundo filme o público é novamente confrontado e desafiado a se ver refletido naquilo que assiste. As expectativas da produção foram altas, o investimento também, as apostas provocativas e arriscadas. O resultado foi o que foi. Uma coisa parece certa: não desejavam deixar o público anestesiado (ou excitado) passivamente nas cadeiras das salas de cinema como meros consumidores. Desejam reações humanas, genuína e ativamente humanas, do seu público. Obtiveram? Certamente. Phillips e seus colegas “started a joke”. O filme é extremamente bem sucedido nesse quesito. Isso faria do filme um “bom filme” ou um “filme ruim”? Importa? Vejamos…

O elemento alegórico e o jogo narrativo (e metanarrativo) do filme entram em cena como espelhos, algo que, para mim, é central em ambos os filmes, mais ainda na “Loucura a dois”. Phillips e sua equipe procuraram deixar explícita a crítica que parte da recepção do primeiro filme parece ter esquecido. Seja pelas (justas) homenagens e prêmios incensando a obra. Seja pelos anos de pandemia, ou a esperançosa eleição de Joe Biden em 2020, que gerava algum alento após a espiral ralo abaixo em direção aos absurdos autoritários e filo-fascistas da sociedade estadunidense pós-Trump. Seja como for, o personagem Joker tornou-se algo diferente do “lado de cá” da tela. Espécie de ícone anti-establishment, ou figura messiânica pop culture, ou mesmo inspiração para a adoração a outros tipos de palhaços. Humoristas afirmam que quando precisam explicar a piada, em geral, é porque ela não foi uma boa piada. Mas… como dizia a música dos Bee Gees, “the joke was on me”. Neste caso, não eu, individualmente, mas nós. Lá e cá. Dentro e fora das telas, norte ou sul das Américas.

Este jogo de explicar piada é uma tarefa inglória, ingrata e, arrisco dizer, no caso do novo filme do Coringa, didática (até excessivamente didática em alguns momentos). No primeiro filme, Todd Phillips apresentou-nos Arthur Fleck, o homem sem qualidades.4 Um homem doente em uma sociedade doente. Um homem branco, frustrado, com desvio de personalidade narcisista, traços de sociopatia, uma indiferença completa pelos sentimentos alheios, medíocre nas suas ações e desejos, ressentido, iludido, pobre, incompetente, doente, fraco, embrutecido e maltratado por uma sociedade que idolatra bilionários, super-heróis, celebridades, ostentação e fartura, vitórias, competição, enquanto delira com os “méritos” e a grana dos “bem-sucedidos”. Violência atrás de violência, incidentes e acidentes moldam a sua caminhada à decadência e loucura. E do esquecimento de um “Zé-Ninguém” ascendeu rapidamente ao “estrelato”o Coringa, depois de seguidos homicídios. Ele chegou lá! Fez alguma coisa. Assassinou também o âncora de um programa de entrevistas ao vivo, em pleno horário nobre. Abraçar a violência que o colocava em posição de vítima, afinal de contas, proporcionou algo a ele. Nascia ali uma persona que parecia sintetizar e ecoar as frustrações de dezenas, centenas de milhares de pessoas, oprimidas pelas violências cotidianas de uma sociedade decadente e doente, ajoelhadas à espera de um salvador, que celebra as ações de outrem enquanto abraça a sua própria impotência de telespectadores passivos e agressivos. A sede por destruição, pulsão de morte, por desfazer algo considerado belo e ser notado, e estranhamente celebrado, nasceu crítica ao homem medíocre e sem qualidades na tela do cinema, mas ela seguiu caminhos estranhos do lado de cá da tela.

Em 06 de janeiro de 2021, os EUA e o mundo assistiram atônitos à marcha de “proud boys”, “bandeiras confederadas”, neonazistas, NRA/ KKK, e homens brancos fantasiados de xamãs chifrudos e com suas caras pintadas, óculos escuros e patrióticos bonés “MAGA”, entre outros adereços e devaneios conspiratórios invadirem o edifício do Capitólio, em Washington, numa sanha moralizadora para “salvar os EUA de um inimigo perigosíssimo e secreto”. Uma tentativa de golpe no coração da autoproclamada “maior e mais forte” democracia do mundo (risos). A cena não é idêntica, mas é possível traçar alguns paralelos com uma das cenas finais do filme de 2019, antes de ele ser encarcerado no Hospital Psiquiátrico de Arkham, quando o Coringa parece atingir uma espécie de êxtase em meio ao quebra-quebra de uma rebelião em que muitas pessoas pareciam iniciar uma espécie de idolatria pelo redentor, copiando suas cores, sua maquiagem, e dando vazão aos desejos mais primitivos por destruição e celebridade. Foram presos e processados, aliás, como Arthur Fleck, não como o Coringa, ou seus personagens criados para a ocasião.

O segundo filme do Coringa parece querer explicar que apesar destas coisas não serem causa e consequência (um não explica o outro e vice-versa), algo teria se desconectado de fato. Talvez, o problema não seja o filme, ou o cinema, mas a própria sensibilidade estética dos novos sujeitos do mundo capitalista em sua fase neoliberal, reduzidos a trabalhadores precarizados e consumidores alienados. Ou ainda, uma coisa até mais básica, como sabermos separar o entretenimento da realidade seja o cerne da questão. Acho que é possível ler apropriações “selvagens”, como diria Michel Foucault, como aquelas vistas em Washington e as cenas de Brasília dois anos depois, no dia 08 de janeiro de 2023, como linhas de uma confusão que precisa ser desfeita. O filme talvez nos ajude a pensar isso.

Os principais cenários do filme são: o Asilo Arkham (um hospício cruel e brutal centrado na ordem do vigiar e punir) e o tribunal, o lugar da racionalidade, da moralidade, da verdade e da justiça. Um lugar de julgamento também, lugar de definição do que é ou não aceitável, e legítimo, perante a sociedade. A ironia se faz na polarização entre estes cenários que evidencia a loucura geral que parece estar dos dois lados da tela, entre manicômio e lugar de julgamento, entre o lá e o cá, o entretenimento e o mundo. O “circo” midiático dentro e fora do tribunal a ganância sensacionalista dos abutres da mídia corporativa e sua sanha por “true crimes”, serial killers, casos escandalosos e violentos; as pessoas comuns, nas ruas, na porta do tribunal, fazendo ações de “protesto” em defesa do “Coringa”, como espécie de “campeão anti-sistema”, na esteira da premissa moralista e teocrática “os humilhados serão exaltados”. Tudo isso serve para vermos a confusão. A bagunça generalizada que o filme parece denunciar.

O segundo filme, portanto, adensa as críticas e chega remeter àquela sala de espelhos bizarra dos parques de diversão. Cada um de nós se posiciona diante de um espelho e vê um Coringa diferente. Arthur, contudo, segue ali, na tela, o filme quase todo. Ele mesmo, o “perdedor” (loser, como os estadunidenses adoram dizer). Um homem que deseja ser amado, ser “alguém”, e que nada tem, nada conquistou ou construiu. Ele é o protagonista. “Lee” (Lady Gaga) verbaliza isso. Ela assevera amar o Coringa. Ela deseja o Coringa. Não é ele, Arthur, que ela deseja, ao ponto de pintá-lo com as cores do palhaço para ter uma relação com ele. A personagem de Lady Gaga (ela mesma uma persona de fama mundial e adorada pelo seu público de “monstrinhos”) é o par romântico perfeito para o Coringa nesse filme. Depois de ver o “filme” feito sobre ele, se encanta pelo Joker e, como todos os demais, quer esquecer da figura patética de Fleck. Desejam o Coringa ali, diante deles, seja qual for seu formato (ou ações). “Free the Joker!”, bradam e proclamam. A libertação no final do julgamento, ou da sessão. Mas o julgamento não se encerrou como previsto e a confusão se acirrou ainda mais. Fleck encontrou o único destino possível para ele, uma morte violenta. Aquilo que imaginamos do Coringa se desfaz diante dos nossos olhos. As luzes se acendem, os letreiros somem. Resta o vazio de uma tela para a qual miramos como num “espelho escuro” (black mirror) como as telinhas de nossos aparatos tecnológicos portáteis. Aquilo que projetamos sobre uma personagem como o Coringa, diz algo sobre o filme? Eis o jogo de espelhos, projeções e expectativas como no teste do borrão de tinta de Rorschach. O inconsciente toma conta do nosso imaginário e daquilo que “vemos” e, especialmente, como vemos e atribuímos um sentido.

O resultado não poderia ser outro: perplexidade, raiva, frustração, um tipo bem freudiano de reação a esse tipo de “castração”: um não bem grande aos desejosos espectadores e consumidores do Coringa dos quadrinhos e do cinema. Pode ser que a minha crítica também não seja lá tão bem recebida. Explicar a piada é duplamente triste para quem se propõe a isso. Uma figura como a de Fleck não é potente, não chega a ser sequer um vilão, pois ele é patético; seu semblante é tétrico. Novamente, a atuação de Phoenix é brilhante em caracterizar não uma pessoa apenas, mas a ruína de um ser humano em uma sociedade decadente. Lugar que não cria nada, não dá nada, do qual nada se pode esperar. Que apenas exige virtudes e retira direitos, liberdade, dignidade e a humanidade das pessoas. Fleck é um resto, ruína viva dessa sociedade que se autodestrói. Ele não tem nada. Não goza ao matar, não sente vontade de viver, crescer, criar. O conteúdo de sua existência foi reduzido a nada, apenas a sua carcaça doente segue viva. Não conhece felicidade alguma, salvo quando notado, quando “adorado” e idolatrado como as “celebridades” da sua imaginação infantil derretida pelos anos e anos de violência, traumas e radiação diante dos tubos de imagem e programação tóxica televisiva. Arthur Fleck é o reflexo do espectador passivo diante do “tubo”, do “você-tubo”, e a própria alegoria da decadência de Gotham City. O homem no espelho de um mundo doente. Além disso, no fim das contas, não foi ele, Arthur, quem foi amado e que as pessoas desejavam ver nas telas, não é mesmo? Foi o Coringa. Aquele que a Harley Quinzel assistiu no filme que fizeram dele (inclusive, uma sacada ultra didática), e que as massas abraçaram dentro e fora das telas. “Arlequina”, uma mentirosa contumaz, chegou a dizer “amá-lo”, como algumas pessoas dizem “amar” celebridades, enquanto famosos e famosas, ela também espectadora passiva e consumidora da idolatria nas telas.

Fleck foi preso e processado. Não há grandes planos, ou fugas espetaculares, não há estratégias geniais, capangas, cenas de ação ou diálogos entre mocinho e bandido. O Coringa desfez-se em Arthur na sua rotina de violências, no interior de Arkham e ao longo do seu julgamento que se encerrou de modo bombástico. O que fazer com ele? Ninguém o quer. Querem o Coringa, mas Fleck não deseja mais ser o Coringa. E agora? Quem saberia o que fazer com esse homem fraco e arrependido de ter criado o Coringa? Um homem em fuga de si, em busca de ajuda, perdão, amor e tratamento numa sociedade em que nada disso está disponível para ele. Apenas a consequência dos seus atos. O filme desfaz o Coringa no processo, só nos resta Fleck que retornou para Arkham uma última vez.

Harley “Lee” Quinzel ajuda a explicar um dos pontos centrais da crítica no filme. “É tudo entretenimento”, diz ela ao abandonar Fleck nos degraus da escada onde tudo começou para o Coringa (de 2019). Saber separar as coisas é importante. Ela, evidentemente, está do lado de lá dessa separação e nada deseja com a realidade ou com Fleck. Ela, a personagem, não quer o real. Ela quer o fetiche, a fantasia, o entretenimento, mas ela sabe que há uma separação e onde ela mesma se localiza (na ficção). E nós, do lado de cá, sabemos? A seleção das músicas e suas letras são tão estruturais para a trama do filme quanto as cenas, personagens, diálogos e cenários. Achei criativo e espirituoso por um motivo. A cena de “Lee” e Arthur, ainda em Arkham, enquanto os internos assistem a um musical passivamente enquanto ela põe fogo no piano. Essa cena permite compreender que o aspecto musical do filme não é mero delírio alegórico da cabeça dos loucos (Phillips, Phoenix, Gaga, ou o Joker) mas uma estratégia que coloca o público um pouco mais próximo da posição dos internos daquele hospital psiquiátrico. O jogo se inverte por um segundo, mas é o bastante. Sentadinhos, caladinhos, no escurinho do cinema, olhos vidrados na tela como as pessoas no cinema. Muito sugestivo sobre quem são os loucos ali, e mesmo sobre até que ponto a loucura pode ser um ponto de vista sobre a razão.

Acho que o filme realiza bem uma farsa, como aliás, toda continuação desnecessária. Mas apesar de tudo, é necessário ceder. O Coringa, ou uma prefiguração dele, aparece numa das últimas cenas, quando Fleck encontra seu destino na ponta de sua faca. O desaparecimento de Fleck seria o parricídio fundador, o nascimento de um “filho forte”, como ele diz na sua última canção, que assumirá o seu nome e sorriso macabro, um verdadeiro psicopata, como o público parece desejar? O filme se encerra com uma piada mortal. Ao final, Coringa: loucura a dois parece exigir que o limite entre ficção e realidade seja reformulado e restabelecido. Assim, podemos separar entretenimento da vida real. Do contrário, a farsa seguirá sua rotina entre consumidores cada vez mais odiosos de tudo o que lhes desagrada, seja torcer (ou martirizar) os carismáticos “vilões”, supostamente “redentores” ou “anjos vingadores” dos fracos e oprimidos na vida real; seja um palhaço assassino; seja o Justiceiro, mascarado ou não; ou o Capitão (América? Nascimento? Biroliro?); o bilionário alaranjado; os bilionários no fake submarine; os bilionários das big tech; os banqueiros; os do agronegócio; os financiadores dos invasores do Capitólio (6 de janeiro de 2020); ou aqueles do Supremo Tribunal Federal (8 de janeiro de 2023); ou do homem que decapitou o próprio pai em fevereiro de 2024 nos EUA, e mostrou seu feito em vídeo postado na plataforma YouTube (que ficou no ar por 14 horas!), clamando por uma revolução contra o “Regime” de Biden; ou ainda o atentado a bomba na estátua da Justiça que fica na entrada do prédio do Supremo Tribunal Federal (13 de novembro de 2024), em Brasília, cuja única fatalidade foi o Zé-Ninguém “Tiü França”, personagem de Francisco Wanderley Luiz.

O filme não traça, evidentemente, uma linha “ideológica” numa direção apenas (para a esquerda ou para a direita). Nisto ele remonta ao primeiro longa-metragem. Não são feitas caricaturas fáceis de espectadores passivos, torcedores ou consumidores, gente crédula, ingênua, orgulhosa e embrutecida, impotente nos rumos da vida, ainda ajoelhada diante de um deus morto, acorrentando-se aos messianismos de ocasião, ou algum idealismo patriótico digno de um major Policarpo Quaresma, ou o que quer que seja. O filme não é moralista, mas é um discurso sobre o niilismo da nossa época decadente e, como tal, e talvez por isso, nos deixe assim, perplexos. Parece descortinar algo estruturante da decadência em que vivemos e que um mero apontar de dedos (“para cima” ou como “arminha”) não resolve, absolutamente. Seja o conservador “anti-woke” ou o progressista “anti-identitarismo”, o liberal mais ou menos moderado, os evadidos de ontem e hoje da realidade no trabalho, no produtivismo, o revolucionário mais utópico ou o fascistóide mais assumido, o filme nos coloca diante de nós mesmos e de um vazio que não se preencherá. Ele nos provoca a confrontar aquilo que levamos conosco para as salas de cinema, quer desejemos isso ou não. Nos lembra que cinema é entretenimento. O resto é com a gente.

 

 

 


NOTAS

 

 

1  Este texto foi escrito no dia 18 de novembro de 2024, data do aniversário de 71 anos de Alan Moore.

2  NIETZSCHE, F. W. O Caso Wagner: um problema para músicos; e Nietzsche Contra Wagner: Dossiê de um Psicólogo. Tradução, notas e Posfácio: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016. p.50.

3  I started a joke/ Which started the whole world crying/ But I didn’t see/ That the joke was on me.

I started to cry/ Which started the whole world laughing/ Oh, if I’d only seen/ That the joke was on me.

I looked at the skies/ Running my hands over my eyes/ And I fell out of bed/ Hurting my head from/ things that I’d said.

Till I finally died/ Which started the whole world living/ Oh, if I’d only seen/ That the joke was on me.

I looked at the skies/ Running my hands over my eyes/ And I fell out of bed/ Hurting my head from things that I’d said”.

4  Na resenha que publiquei sobre o primeiro filme (2019), arrisco uma previsão meio ousada que parece encontrar eco na elaboração da continuação. “[…] Eu antecipo, meio pessimista, que o público em algumas salas de cinema brasileiras possa exibir uma reação análoga (não direi idêntica) ao primeiro Tropa de Elite (José Padilha, 2007). Mas isso não vem ao caso agora”. Talvez, o segundo filme do Coringa de Phillips funcione como espécie de “acerto de contas”, na esteira do que Padilha tentou com Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro (2010). Quem sabe? Ver: <https://hhmagazine.com.br/cadernos-do-subterraneo-sobre-o-coringa-de-todd-phillips/>, acesso em 18 nov. 2024.

 

 

 


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