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Eu prefiro as curvas
Proust Suburbano

Eu prefiro as curvas 

 

Só ando sozinho, e no meu caminho 

O tempo é cada vez menor 

 Erasmo Carlos / Roberto Carlos 

 

A gente ia para Santos quase todo domingo. Isso foi bem antes de “era um domingão”. A gente ia para Santos aos domingos. 

Saía cedo de casa. Chegava cedo à praia. Ia de fusca, mas não “era um fuscão”. Era legal, mas não era “que legal”. 

Minhas memórias de areia remontam às essas idas para Santos com meus pais e minha irmã. 

Tenho foto na praia, sentado na esteira com minha mãe e outra com minha mãe e com minha irmã. A primeira eu bebê, Dudinha bebê, antes de falar é do Duda. A segunda já menino, na fase de janelas na boca pelas trocas de dentes de leite por dentição definitiva, se bem que nada é definitivo. 

Quando paramos de ir para Santos aos domingos eu não me lembro. 

Nos anos 80, começamos a ir para Mongaguá e nos 90 para Peruíbe. Pulamos Itanhaém, por onde se passa para chegar a Peruíbe, litoral do extremo Sul de São Paulo. 

Mas, Santos é o assunto de hoje. 

Pela manhã, a gente ficava na praia, entrava no mar. Para ir almoçar, a gente tirava a areia do corpo, evitava sujar o carro de areia. Meu pai encrencava se sujássemos o carro. Minha mãe coordenava a limpeza. 

No almoço, comíamos camarão à grega, que de grego não devia ter nada, mas é um prato de que minha gustação tem memória. Consta de camarões em espeto entremeados com cubos generosos de queijo provolone empanados e fritos. O camarão era dos graúdos. Grelhados os camarões. Como guarnição, arroz à grega. 

À tarde, fazendo a digestão do almoço, a gente ia ao Aquário de Santos. 

Era sempre esse o roteiro. 

Passeávamos a pé até começar a ficar tarde mais tarde e irmos comer pastel. 

Na hora de ir embora, a gente ia para a ponte da praia. 

Não sei se eles, meu pai, minha mãe e minha irmã, olhavam para longe no domingo de passeio terminando, mas eu lançava meu olhar ao longe, como se da ponte eu o lançasse para pescar algo. Talvez estas memórias.  

Roteiro cumprido, antes de anoitecer, a gente subia a Serra do Mar de volta para casa em São Paulo. 

Não havia a Imigrantes. Havia a Anchieta e a Estrada Velha de Santos. 

Muitos anos depois desses passeios, eu voltei a Santos para trabalhar como operador de som em uma comédia estrelada por Raul Cortez. 

Apresentamos Greta Garbo quem diria acabou no Irajá num fim de semana no Teatro do SESC Santos. A gente tinha permuta para as refeições, mas no almoço de domingo eu procurei nos restaurantes da orla de Santos algum que servisse camarão à grega. 

Não preciso dizer o que me moveu a isso. 

Não sei se achei o restaurante em que, na infância, eu comia essa iguaria. Encontrei uma casa, me sentei e almocei camarão à grega. Não era aquele camarão, claro. Era um espeto com camarões menores do que eu me lembrava. 

Para além da desproporção, da não simetria, aquele camarão era mesmo um Cavalo de Troia. Era para minha memória um presente de grego. 

Eu prefiro as curvas da estrada de Santos, mesmo sabendo que por ela eu não vá mais passar. 

 

 

 


Créditos na imagem: Divulgação. Ponte da Praia – Santos/SP. Fonte: Rede Mundial de Computadores

 

 

 

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