Quis falar, escrever, desenhar. Cantar e dançar. Quando me falta um pedaço, outros vários que ainda existem surgem pra lembrar que se eu olhar para cima, o céu ainda é azul. A semana difícil e cheia de inormações que ainda não processei internamente ganhou um respiro quando alguém me chamou pra tomar um café expresso. Acordei naquele dia com vontade de pegar o celular e dizer “deixa pra outro dia, hoje não quero sair”, como eu já havia feito outras vezes, pra nada. Mas fui.
Enquanto artista, a fotografia é a linguagem artística com a qual mais me deparo em busca de mim, e da forma como enxergo o mundo. Acredito que o instante espera para ser registrado, mas ainda é um instante. O exercício tem sido justamente procurar os meus instantes, aqueles que mais conversam com a realidade que enxergo. E, cada vez mais, as coisas pequenas do dia a dia têm me chamado a atenção; de uma semana inteira, um único dia conseguiu fazer tudo valer a pena. Porque, claro, estava num lugar que amo, com pessoas que amo. Aquele café me lembrou que tudo era parte da caminhada, coisa que eu já ia me esquecendo. “Calma”, li num muro na volta pra casa. Isso tudo se tornou parte de uma pesquisa e coleção que desenvolvo ainda de forma pessoal, informal. Pra isso, parti em busca de artistas que trabalhassem com o cotidiano e suas possibilidades na fotografia.
Além da fotografia de paisagem de Karina Dias, sobre a qual falei em outro texto, a fotografia de detalhes cotidianos de Kari Galvão tem trazido inspirações e reflexões diversas. Kari reside em Recife (PE) e sua experiência na fotografia é ampla, com mais de 10 anos. Formou-se no Curso Superior de Tecnologia em Fotografia pela Universidade Católica de Pernambuco em 2014. A fotografia é sua principal forma de expressão artística, e através dela a artista constrói aprendizados carregados de significados e poesia. Ainda de acordo com a artista, seu trabalho traz uma observação atenta e constante aos detalhes mais sutis em tudo que toca o olhar, buscando a beleza na simplicidade do cotidiano. Além de artista fotógrafa, Kari é também ilustradora e artista gráfica.
As fotografias de Kari Galvão têm, por isto mesmo, uma essência de memórias comuns a todos nós; familiares, detalhes cotidianos. A artista expressa a sua forma individual de ver a vida, mas remete à uma poesia que paira a vida de qualquer espectador. Há uma troca de experiências e inspirações. A busca de Kari pelo detalhe, pela memória, por novos ângulos de ver e as sensações por eles causadas dialoga com a descoberta – ou redescoberta – do espectador para com a sua própria realidade. Mais recentemente, o trabalho de Kari tem se voltado também a cenas e objetos para além do cotidiano urbano, trazendo registros de ambientes onde a natureza impera. Nestas fotografias e vídeos de curta duração, vemos o detalhe ou o instante em toda a sua complexidade, mas com a leveza característica da fluidez, tal como em um pequeno riacho.
Questionar o modo como o cotidiano se apresenta para nós, de forma a procurar nele a beleza e a vida é uma das lições que o estudo da fotografia tem me proporcionado. Expressar. O que antes já estava quase adormecido, em termos de visão e produção criativa, volta à tona pelas mãos da instantaneidade que agora salta aos olhos. Pelos gestos simples, mas carregados de poesia que os amigos proporcionam. E sigamos na busca pela poesia do cotidiano, ainda que só nós possamos a ver.
Créditos na imagem: Reprodução. De passagem. Kari Galvão, fotografia autoral. 2021.
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Lindo texto! Fiquei emocionada :’) muito obrigada mais uma vez, Paula, pelo convite e pela sensibilidade! Uma honra pra mim 🙂 abraço!