o assoalho e tudo o que ele engole.
estará nascida a árvore
que será este poema?
fenda cujo estofo é a gamela
atravessada pelo enchó
de pouca luz e sangue.
serei a véspera da família
pelos cantos da casa?
os dias que alimentam o porão de noites
ou o lápis de deus perscrutando
a corda certa não saberei nunca, embora
o barrote mensure a vida
feito o zahir de borges.
a cômoda gigante, a sala e o tio
– utensilio e tábua – a tia, a reza irada
entre vasilhames, gemidos e santos,
os paus de cada móvel e um relógio inútil
a percorrer as horas.
Crédito imagem: Farnese de Andrade, O Anjo Anunciador, 1976. Fragmento de cabeça de anjo, ex-votos [seios], sobre placa de madeira sobre porta de móvel policromado, 68 x 36 x 20 cm. Foto: Sérgio Guerini.
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Seu poema emula Farnese, transmuta a escultura atroz com a família mineira em palavra…que fará a escultura e depois o poema saído de A crônica da casa assassinada? Seu poema tem também essa genealogia, essa herança, filiação…vc, Farnese e Lúcio Cardoso: todos da mesma laia!
Caro Marcelo Abreu, gosto de pensar que sou desta laia sim, mas apenas comi naquelas gamelas fora das minhas horas ordinárias. E não sei se digeri conforme deveria. Vontade de ambos e pretensão infantil minha – que autores! Que bom você pensar neles. Valeu, um abraço.