Um demônio se movimenta lento pela estrada turva
no aindão de agora – onde carne e barro se pisam
entre arado e quilha. Sem a ligeireza dos anjos alvos
da capela familiar, onde saponáceos e anis enxaguaram
tantos panos puídos, enquanto as águas atravessam
bacias devotas suspensas em coxas brancas.
São hospedeiras musculares da única lembrança
que embrulha a força em torno ao mato crescente
das horas que súbito indicam mesmo uma só coisa:
Corpo. Corpo limitado por corpo, por mais que
se penetrem, que se arranhem lábios flora abaixo
estarão sempre fora, pois que se pretendem outro.
Submerso pelo rio ruivo um demônio ainda
se movimenta em lentidão. O amor o atravessa
como bois que não se falam na experiência do atoleiro
atraindo insetos advindos de pequenas memórias,
enquanto buscam a assepsia restauradora nos limites
da pele. O movimento arábico funda uma dança pelos
quadris que avançam sob os panos claros e a promessa
do vermelho. À beira da casca imaginária, pétala recôndita
que a tudo governa sob a música muda do repasto.
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Imagem: Composição Surrealista – 1929 – Ismael Nery – Coleção Particular – São Paulo – Brasil.
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