Fundos de Mariana

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I

 

A lama escorre

Pela ribeira,

E toma o rio.

 

Tudo é terra,

Minério tóxico,

Pranto e destruição.

 

A mata verde atlântica,

Tingiu-se de poeira,

E os pés de sucupira,

Caíram frente ao estouro.

 

Todo mundo chorou,

Pelos que não tiveram tempo,

De chorar pela lama.

 

II

 

Em Mariana,

Na Sé não tocou o sino.

 

Mas na Prainha,

O filho chorou pela mãe.

 

Em Bento,

A mãe rezou pra mercês.

 

Compadecida,

A santa foi junto: nos entulhos da lama.

 

III

 

Minha casa:

É escombro,

Lembrança vazia,

Memória esquecida.

 

Minha casa:

É saudade gélida,

Agora é trauma sonoro

Me acordando toda noite.

 

 

 


Créditos na imagem: Yuri Barichivich/ Greenpeace- Reprodução: UOL

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Luiz Ricardo Resende Silva

Luiz R. R. Silva é escritor e graduando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Tem interesse em História do Brasil e em Histórias das Áfricas, com foco em estudos decoloniais. É autor de "Minha flor africana e outros poemas sociais" (2021), lançado pela Drago Editorial, de "Desgovernal" (2022), lançado pela Editora Caravana, e "Concretude" (2022), lançado pela Toma aí um poema.

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