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Adriano Menezes: Lugar errado

O amor recíproco

resta o fumo, o sexo sob encomenda, o

branco glassé despejado sobre o corpo

e o sono impróprio à luz do dia. a tarde

bolorenta e a inutilidade de ofícios bárbaros

pela filosofia que estaciona os sentidos.

camuflagens que o tempo feito de ferro varre

entre os móveis, mãos separadas, a cama

vazia. mais uma forma a pedir sentido

depois da madorna.

tudo é química estrangeira para

compreender o coração. a cadela também

estranha o afago enquanto, no delírio, as

cidades se emendam e os poemas viajam por

emails fechados. o menino percorre

todas as horas na pele da memória opositora,

desde o quarto de costura da casa

inabitada, vazia, tendo na bomba mal

posta sob as costelas a costeleta do

pai, árvore deitada, que do balcão enxerga

o parque.

antes, a mãe entre moldes e retroses vigia o

filho velho decomposto na tarde. o sábado, os

amigos distantes. o disfarce debruça

seu véu sobre o dia infinito do amor finito

de corpo infinito, dono de todos as horas

e a raiz de um dia que parece sem fim, no

talo oculto que herbicida

algum alcançará. e segue a estação plantada

na simulação dos dias. sabida, certa

morte se derrama com a angústia

mais firme do outono. logo, há algo de ferro

nessa vida. e a cadeira é sempre cadeira

e o canteiro aéreo é só sono diurno que emenda

cidades no sobressalto da tarde.

 

 


Créditos na imagem: Morning Sun, Edward Hopper, 1952.

 

 

 

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