resta o fumo, o sexo sob encomenda, o
branco glassé despejado sobre o corpo
e o sono impróprio à luz do dia. a tarde
bolorenta e a inutilidade de ofícios bárbaros
pela filosofia que estaciona os sentidos.
camuflagens que o tempo feito de ferro varre
entre os móveis, mãos separadas, a cama
vazia. mais uma forma a pedir sentido
depois da madorna.
tudo é química estrangeira para
compreender o coração. a cadela também
estranha o afago enquanto, no delírio, as
cidades se emendam e os poemas viajam por
emails fechados. o menino percorre
todas as horas na pele da memória opositora,
desde o quarto de costura da casa
inabitada, vazia, tendo na bomba mal
posta sob as costelas a costeleta do
pai, árvore deitada, que do balcão enxerga
o parque.
antes, a mãe entre moldes e retroses vigia o
filho velho decomposto na tarde. o sábado, os
amigos distantes. o disfarce debruça
seu véu sobre o dia infinito do amor finito
de corpo infinito, dono de todos as horas
e a raiz de um dia que parece sem fim, no
talo oculto que herbicida
algum alcançará. e segue a estação plantada
na simulação dos dias. sabida, certa
morte se derrama com a angústia
mais firme do outono. logo, há algo de ferro
nessa vida. e a cadeira é sempre cadeira
e o canteiro aéreo é só sono diurno que emenda
cidades no sobressalto da tarde.
Créditos na imagem: Morning Sun, Edward Hopper, 1952.
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Este velho menino e sua sempre mítica estação cravada no tempo e na memória. Salve Adriano Menezes!