Sabemos que o Imperialismo não foi apenas um fenômeno de viés político e econômico, mas também cultural, influenciando as ideias, imagens e representações de diferentes sociedades e culturas. Vemos a persistência do discurso imperialista na contemporaneidade, assim como seu domínio sob diversos produtos culturais.
Essa temática se mostra de grande importância, uma vez que as narrativas são um instrumento de poder, e um exemplo de como isso tem sido aplicado, é a forma como os povos que foram colonizados são representados nos meios de comunicação ocidentais, nas músicas, filmes, livros, etc. No caso deste ensaio usaremos como fonte de análise a obra literária Americanah.
Analisaremos como o discurso imperialista se mostra presente, unindo narrativas para se impor. Buscaremos desconstruir o discurso, a fim de compreender o que está por trás dele, visto que um discurso bem elaborado pode produzir uma ação coletiva e, portanto, analisá-lo é fundamental.
O romance Americanah foi escrito pela nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, e publicado no ano de 2013. Nele, conta-se a história de uma jovem chamada Ifemelu que, nos anos 1990, vive na cidade de Lagos com seus pais. Nessa época, a Nigéria estava sob o governo de um regime militar, Ifemelu, seus amigos e Obinze (que é o seu primeiro e grande amor), tinham que lidar com greves universitárias cada vez mais comuns e longas. Assim, Ifemelu viu nos Estados Unidos uma oportunidade para conseguir terminar seus estudos, começar uma nova vida e conseguir um bom emprego.
Em meio a muitas incertezas, Ifemelu se muda para os Estados Unidos, deixando para trás Obinze. Porém, ambos fazem planos para que, assim que possível, Obinze também se mude para a América, o que aos poucos vai ficando cada vez mais distante de se tornar realidade.
Todavia, quando Ifemelu chega aos Estados Unidos, ela precisa enfrentar muitas dificuldades, uma vez que ela é uma imigrante mulher e negra. Vemos no dia a dia de Ifemelu, o discurso imperialista presente na ideia de que os americanos e europeus são “superiores”, “avançados”, “civilizados”, o que iremos analisar no presente ensaio.
Com o passar do tempo, Ifemelu se torna uma blogueira de grande sucesso nos EUA, com seu blog Raceteenth ou Observações diversas sobre negros americanos (antigamente conhecidos como crioulos) feitas por uma negra não americana, no qual Ifemelu discute assuntos relacionados a questões raciais, desigualdade de gênero, imigração, entre outros.
Ifemelu e Obinze perdem o contato, mas o sentimento de um pelo outro permanece. Ela decide seguir a vida e se relaciona com Curt, um homem americano branco e bem sucedido. No entanto, eles se separam, e Ifemelu começa a namorar um professor negro americano chamado Blaine.
Depois dos ataques de Onze de Setembro, a entrada de estrangeiros nos Estados Unidos fica ainda mais difícil, o que dificulta os sonhos de infância de Obinze, de estudar na América. Ele vai então para a Inglaterra, onde vive alguns meses, mas é deportado. Ao retornar para a Nigéria, Obinze recebe a ajuda de sua prima Nneoma, que lhe apresenta um homem muito rico chamado Chief, que oferece a Obinze um negócio referente à compra de propriedades – Obinze seria seu “testa de ferro”[1]. O jovem aceitou e, assim, se tornou um homem bem sucedido. Posteriormente, ele se casou com Kosi e, juntos, tiveram uma filha chamada Buchi.
Enquanto isso, Ifemelu morava com Blaine nos EUA, trabalhava no seu blog, mas o tempo e o sucesso que ela conquistou não apagaram sua saudade de Lagos, nem tampouco seu grande amor por Obinze. Então, Ifemelu resolve voltar para a Nigéria. Quando ela dizia que iria retornar para a África, os outros africanos que viviam na América, a intitulavam como louca. Mas ela voltou e, ao retornar, encontrou uma Nigéria e uma Lagos diferentes; a própria Ifemelu não era mais a mesma, o que a fazia lutar contra os costumes que adquiriu nos EUA.
A partir desse contexto, e da experiência dessas personagens, analisaremos como o discurso imperialista é presente no romance, observando os aspectos culturais, o preconceito, a violência, o machismo, buscando analisar o campo da escrita da história como uma disputa de poder, e não como algo natural.
Homi Bhabha (1998), Fanon (1968) e Said (2011) abordam o discurso da cultura. Sabemos que o discurso é composto por narrativas e por produtos culturais que o sustentam, assim como por semas, os quais são signos, a parte básica do discurso. Logo, o discurso do imperialismo traz uma duplicidade, porquanto ele é onipotente e onipresente, se tornando válido o tempo todo, carregado pelas narrativas, e as narrativas pelos semas.
Vemos esse discurso bastante difundido no romance Americanah. No início do livro, quando Obinze e Kosi vão para uma festa na casa de Chief, a Sra. Akin-Cole, pergunta ao casal se a filha deles, Buchi, já está frequentando uma escola. Logo em seguida, a senhora diz a Kosi: “Você precisa colocá-la na escola francesa. Eles são muito bons, muito rigorosos. É claro que as aulas são em francês, mas não vai fazer mal nenhum para a criança aprender outra língua civilizada, já que aprende inglês em casa” (ADICHIE, 2014, p. 36).
Nesse trecho do romance vemos a exaltação da língua francesa, entendida como uma língua civilizada, o que nos remete ao discurso imperialista, fazendo-nos questionar: o que é ser civilizado? E quem é civilizado? E quais são as assimetrias que determinam quem é ou não civilizado?
Edward Said afirma que os cruzamentos entre cultura e imperialismo são irresistíveis. O autor aponta que colonizar vai além das “terras”, mas abrange ideias, formas, imagens e representações. De acordo com Said, nem o imperialismo, nem o colonialismo são um simples fato de acumulação e aquisição:
Uma das realizações do imperialismo foi aproximar o mundo, e embora nesse processo a separação entre europeus e nativos tenha sido insidiosa e fundamentalmente injusta, a maioria de nós deveria agora considerar a experiência histórica do império como algo partilhado em comum (SAID, 2011, p. 21).
O autor demonstra as trocas culturais do imperialismo, evidenciando que o contato imperial não se baseava em uma relação do colonizador bondoso que estava levando a civilização aos outros povos considerados bárbaros. Ao contrário, os povos que foram colonizados tinham e têm sua história e cultura, mas as narrativas vão sendo criadas e mobilizadas para sustentar o discurso do império de que o “fardo do homem branco”[2] seria o de levar a civilização.
Vemos esse discurso presente em outros trechos do livro Americanah como, por exemplo, quando Ifemelu está em um salão de beleza fazendo tranças em seu cabelo. Havia uma pequena televisão na parede em um dos cantos do cômodo, na qual passava um filme nigeriano. Na cena, o homem batia na mulher, que gritava e ficava encolhida. Posteriormente, Ifemelu ouve uma das clientes perguntar para uma das funcionárias do salão sobre a pilha de DVD’s nigerianos que estava ali. A cliente diz: “Não consigo assistir essas coisas. Acho que tenho certo preconceito. No meu país, a África do Sul, os nigerianos são conhecidos por roubar cartão de crédito, usar drogas e mais um monte de coisas loucas. Acho que os filmes são meio assim, também” (ADICHIE, 2014, p. 204).
Esse trecho do romance evidencia como os “nativos” são representados pela indústria cultural na contemporaneidade. Há uma criação de imagens tanto do colonizador quanto do colonizado. Said (2011) afirma que a Europa viu a necessidade de buscar no passado uma história de poder, a fim de demonstrar sua hegemonia imperial. Logo, os impérios são, na maioria das vezes, representados como grandes, poderosos, luxuosos, desenvolvidos, enquanto a figura do “nativo” é colocada como violenta, exótica e rebelde. Isso pode ser observado em outras cenas do livro, como quando Ifemelu conhece a irmã de seu namorado Blaine, e ela lhe diz: “Acho que é porque você é exótica, tem essa coisa de ser uma africana autêntica” (ADICHIE, 2014, p. 347).
Edward Said fala que as influências sobre as atitudes culturais do presente se tornam mais importantes do que o passado, uma vez que trazem consigo “resíduos do imperialismo”,
Os ocidentais podem ter saído fisicamente de suas antigas colônias na África e na Ásia, mas as conservaram não apenas como mercados, mas também como pontos no mapa ideológico onde continuaram a exercer domínio moral e intelectual (SAID, 2011, p. 62).
Desta forma, vemos como ideias e valores são construídos e desconstruídos por meio da narrativa, como, por exemplo, quando o papel de empregada nos filmes e novelas é designado, na maioria das vezes, às mulheres negras, e o papel de usuário de drogas atribuído ao jovem negro, o que corrobora a criação e sustentação do discurso imperialista.
Isso nos remete ao que Bhabha (1998) diz, quando afirma ser necessário “desmontar” a engrenagem do discurso, a fim de compreender quantos semas são agregados e, de que maneira, são agregados para formar o discurso, ou seja, desconstruir o discurso para descobrir o que está por trás dele. O discurso do império é disseminado e cria narrativas que dificultam compreender quem é o autor, e só conseguimos descobrir quem fala, quando analisamos quem lucra com aquele discurso.
Outro aspecto cultural que podemos analisar no enredo de Americanah é a tentativa de se tornar igual ao colonizador, ao branco, considerado “desenvolvido”. Quando Obinze faz um elogio à sua esposa Kosi, ela tem uma reação peculiar “[…] Kosi riu. Da mesma maneira como ria, como quem se deleita com franqueza e aceitação com sua aparência, quando as pessoas lhe perguntavam “Sua mãe é branca? Você é mestiça?”, por ela ter a pele tão clara. Aquilo sempre desconcertara Obinze, o prazer que ela sentia ao ser tomada por uma mulata” (ADICHIE, 2014, p. 29).
Ifemelu relata também sobre como Bisi retornou após uma viagem aos Estados Unidos, “[…] uma menina um ano abaixo delas que voltara de uma breve viagem aos Estados Unidos com estranhas afetações, fingindo que não entendia mais ioruba e acrescentando um erre arrastado a todas as palavras em inglês que falava” (ADICHIE, 2014, p. 74).
Diante disso, vemos a tentativa de se tornar semelhante ao outro, de se enquadrar ao discurso do império. Fanon, no texto Pele Negra- Máscaras Brancas, nos fala sobre essa questão: “O negro quer ser branco. O branco incita-se a assumir a condição de ser humano” (FANON, 2008, p. 27). Isto é, aquele que não consegue ser, mas busca na narrativa, de forma consciente, querer ser.
A própria Ifemelu sentiu esse sentimento atravessá-la: após conversar um pouco com Ifemelu ao telefone, um funcionário de telemarketing disse que ela parecia uma americana falando,
[…] “Uau. Legal. Você parece uma americana falando.” “Obrigada.” Só depois de desligar Ifemelu começou a sentir a mácula de uma vergonha crescente se espalhando sobre ela, por ter agradecido ao rapaz, por ter transformado as palavras dele, “Você parece uma americana falando”, numa guirlanda que pôs em volta do próprio pescoço. Por que era um elogio, uma realização, soar como um americano? (ADICHIE, 2014, p. 191)
Na análise do discurso, observamos que, quando Ifemelu retorna a Lagos, ela já não se sente mais a mesma e, em uma reunião com outras pessoas que voltaram do exterior, observa: “[…] “Concordo”, disse Ifemelu, e ela percebeu a superioridade em sua voz, na voz deles todos. Eram os santificados, os que tinham voltado, aqueles que haviam chegado com uma camada de brilho extra.” (ADICHIE, 2014, p. 438). Diante disso, vemos que os nigerianos que retornavam do exterior tinham certa supremacia, e se sentiam “melhores”, mais “civilizados” do que os demais. Isso remete ao que Fanon aborda sobre o intelectual colonizado,
O intelectual colonizado que retorna a seu povo através das obras culturais comporta-se de fato como um estrangeiro. Por vezes não hesitará em valer-se dos dialetos para manifestar sua vontade de estar o mais perto possível do povo, mas as ideias que exprime, as preocupações que o habitam não têm nada em comum com a situação concreta que conhecem os homens e mulheres de seu país (FANON, 2008, p. 185).
O que também acontece no governo. Observamos no discurso analisado a existência de um governo corrupto na Nigéria, que explorava seu próprio povo: “Não somos gado. Esse regime está nos tratando como gado e estamos começando a nos comportar como gado.” (ADICHIE, 2014, p. 74). As greves frequentes dos professores também demonstram a falta de investimentos e interesse pelo setor educacional por parte do governo nigeriano, ou seja, o distanciamento e a exploração do seu próprio povo.
O romance Americanah nos mostra diversos relatos de violência, e é de grande relevância analisá-los. Frantz Fanon no texto Os condenados da Terra (1968), nos fala que o processo de descolonização é sempre um fenômeno violento. De acordo com o autor, o colonizado deseja ocupar o lugar do colono, na tentativa de substituí-lo.
O autor nos diz que a luta e violência não cessam assim que a independência ocorre. De acordo com Fanon, a libertação nacional dos países colonizados revela e torna mais evidente a sua situação real, evidenciando um problema ainda maior que é a necessidade de uma redistribuição das riquezas. Há uma persistência da luta, pois o povo colonizado lutava contra a opressão e, posteriormente, contra a miséria, o analfabetismo, o subdesenvolvimento. Ou seja, para eles a vida é um combate sem fim.
No romance, quando Obinze vai buscar ajuda em Chief, o narrador descreve: “Obinze estava em Lagos e tinha de ir à luta.” (ADICHIE, 2014, p. 33). É possível, ainda, analisar esse discurso presente em outro trecho, quando Obinze está na festa de Chief, e vai conversar com um convidado:
[…] Não sei no que você trabalha, senhor, mas estou sempre à procura de um emprego melhor. Estou terminando meu mestrado agora”, disse Yemi, como um verdadeiro lagosiano que sempre ia à luta, com os olhos em perene alerta para enxergar os mais poderosos (ADICHIE, 2014, p. 39).
Assim, há uma luta interminável dos colonizados. Para entendermos isso é fundamental compreendermos a existência de um discurso pedagógico e um discurso performático. Conforme Bhabha (1998), o discurso pedagógico é aquele que é produzido pelo império e serve para docilizar os corpos. Esse tipo de discurso ainda faz com que determinadas pessoas obedeçam determinados padrões, mesmo que eles não sejam estabelecidos.
No discurso de Americanah, vemos a violência das mulheres contra elas mesmas, ao alisar seus cabelos para se enquadrarem nos padrões estabelecidos pelos brancos, e para evitar o preconceito e a discriminação. Isso é revelado em vários trechos, como em: “Quando ela falou da entrevista em Baltimore, Ruth disse: “Meu conselho? Tire essas tranças e alise o cabelo. Ninguém fala nessas coisas, mas elas importam. A gente quer que você consiga esse emprego.” (ADICHIE, 2014, p. 220).
Como mencionado anteriormente, há também o discurso performático, Bhabha (1998), nos diz que o discurso performático diz respeito ao outro, e não é uma negação, mas uma reafirmação do império. Todavia, o discurso pedagógico é tão forte que até mesmo as respostas do discurso performático, corroboram a persistência do discurso pedagógico. Fanon (1968) apresenta a violência como a única saída para quebrar esse ciclo.
No romance, existe o discurso feminista, no ativismo de Ifemelu, que é uma mulher livre. Diversos trechos apresentam cenas de machismo, e corroboram para a construção e sustentação de um discurso que “vem de cima”, ou seja, um discurso branco e patriarcal.
Na obra Pode um subalterno falar?, escrito por Gayatri Spivak, vemos isso de forma clara. Uma vez que a autora apresenta como o sujeito do Terceiro Mundo é representado pelo discurso ocidental. Segundo Spivak (2010), a produção intelectual ocidental é totalmente influenciada pelos interesses econômicos internacionais do Ocidente, o que interfere também na possibilidade de falar da (ou pela) mulher subalterna.
Ifemelu é mulher, negra e imigrante, o que a coloca em várias situações de machismo, violência, preconceito e silenciamento no desenrolar do romance. Seu blog contribui para Ifemelu mostrar que os sujeitos são heterogêneos e para questionar tais problemas. Que partem não só de homens, mas também das próprias mulheres, “Com respeito à “imagem” da mulher, a relação entre a mulher e o silêncio pode ser assinalada pelas próprias mulheres; as diferenças de raça e de classe estão incluídas nessa acusação.” (SPIVAK, 2010, p. 66). Como acontece com Kosi – a esposa de Obinze –, que sempre traz de outros países suas empregadas domésticas, pois, segundo ela, as empregadas nigerianas não eram adequadas. Ainda, há a ideia de que as domésticas, secretárias e as Moças de Lagos, fossem monstros que engoliam maridos.
Kosi não permitia que sua melhor amiga de faculdade, Elohor, fosse visitá-la sempre porque ela era solteira; de acordo com o pensamento de Kosi, isso representava perigo para o seu casamento.
Vemos então a dominação do discurso do império sobre as mulheres. Quando a mãe de Ifemelu começa a frequentar a igreja, ela para de usar colares e brincos porque, segundo o pastor, eles não eram de Deus e nem acessórios de mulheres virtuosas. Observamos, assim, a mãe de Ifemelu se adequar aos padrões estabelecidos pelo discurso.
A mãe de Ifemelu também descreve a mulher como uma flor, com uma “data de validade”: “[…] Trabalhar é bom, Ifem. Mas você também deve ficar de olhos abertos. Lembre que uma mulher é como uma flor. Nosso tempo passa rápido”. (ADICHIE, 2014, p. 327).
O discurso de dominação do império se impõe sob as mulheres de forma mais profunda do que aos homens. Há certa hierarquia, em que o império domina o homem e o homem busca dominar a mulher, o que é visto na forma como o discurso é imposto e disseminado,
É mais uma questão de que, apesar de ambos serem objetos da historiografia colonialista e sujeitos da insurgência, a construção ideológica de gênero mantém a dominação masculina. Se no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais profundamente na obscuridade (SPIVAK, 2010, p. 66-67).
Assim, vemos um silenciamento das mulheres no discurso do império, e nas raras vezes em que as mulheres aparecem, elas são representadas no coletivo, como se ser mulher fosse algo único e universal. Além de serem apresentadas como submissas aos homens, como figuras secundárias na história.
A narrativa tem um grande problema, pois tende a falar sobre um grupo específico, o qual, na maioria das vezes, consiste na contraposição entre um ocidente civilizado e um oriente exótico. Ademais, tanto o discurso performático como o pedagógico são formados por narrativas, as quais vão de acordo com a sua audiência e o imaginário coletivo.
Em Americanah, o discurso imperialista é visto na ideia de que Ifemelu é uma africana exótica, na construção do povo nigeriano como um povo agressivo, na necessidade de alisar o cabelo e de ter determinados comportamentos para se enquadrar, no racismo, no machismo, entre outros. Assim sendo, o imperialismo é uma forma discursiva, que tem como base as narrativas e as armas, e se alimenta de um suposto nacionalismo. Onde o campo da representação é de extrema importância, “Aqueles que têm o poder de representar e descrever os outros claramente controlam como esses outros serão vistos. O poder de representação como uma ferramenta ideológica tradicionalmente faz dele um espaço disputado” (BAHRI, 2013, p. 666).
Assim, podemos ver que o imperialismo não chegou ao fim. Seu discurso continua sendo imposto e alastrado no mundo contemporâneo. Todavia, Bhabha (1998) propõe desmontar a engrenagem do discurso, com o intuito de compreender o que ele quer. Sabemos que os povos colonizados não são pessoas passivas no processo do imperialismo, pois eles sempre tiveram, e têm suas histórias, religiões, costumes e culturas, os quais não podem, de maneira alguma, ser vistos como inferiores. Há uma história para além daquela que o império deseja impor e disseminar através dos produtos culturais. “Quando rejeitamos a história única, quando percebemos que nunca existe uma história única sobre lugar nenhum, reavemos uma espécie de paraíso” (CHIMAMANDA, 2019).
REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Americanah. Tradução Julia Romeu. — 1a – ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Companhia das Letras, 2019.
BAHRI, Deepika. Feminismo e/no pós-colonialismo. Estudos feministas, v. 21, n. 2, p. 659– 688, 2013
BHABHA, Homi K. O local da cultura. BH: Editora UFMG, 1998.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Tradução: José Laurênio De Melo. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. Editora Companhia das Letras, 2011
SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. SP: Cia das Letras, 1999.
SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Tradução: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
NOTAS
[1] Expressão usada para designar alguém que se apresenta como dono de um negócio/empresa, mas na verdade não é.
[2] KIPLING, Rudyard. O fardo do homem branco. Leituras Contemporâneas, 2010.
Créditos na imagem: Americanah – Chimamanda Ngozi Adichie
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