Por e para

1

 

Mastigando o amargo da catástrofe que arrasta os dias
Vão se acorrentando aos sonhos murchos e ressecados um verniz pueril
De um sentido roubado, retirado do espírito pela névoa da erudição
Maquínicos antiquários se reproduzem entre escombros publicados
Engodam e infectam o mundo com retóricas efêmeras imperialistas
Pisam no brilho das águas roubando-lhes o esplendor
Derretem os sonhos que jazem entre as coisas
Irradiam em prismas a agonia púrpura em seus tapumes
Em busca da coisa em si sem elevar-se, ironia fina
Tecem a fio seco os méritos dessa malha puída
Somente mofo cresce sobre as suas feições inóspitas
Os rostos cansados deflagram a angústia que os consomem
Máscaras de senhores fidalgos, abutres famintos de brilho
Degustam vísceras para nutrirem suas carcaças
Com a soberba que os habita, engrenam a prepotência a vácuo
Sacos de lixo com estampas de mal gosto desfilam em púlpitos
Há conforto ou alento nessa peste putrefata?
Neoliberais estruturais e hierárquicos inscritos em classificações
Onde a alegria foi se esconder, onde foi?

 

 

 


Créditos na imagem: Título: Máscara
Técnica: Carvão vegetal sobre papel
Dimensões: 21,0 x 22,9
Ano: 2018

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Will Lopes

Brasileiro, mineiro da Zona da Mata. Amante do mato e do hightech. Licenciado em história. Aventureiro das artes.

 

1 comment

  1. Danilo Campos 31 março, 2021 at 23:12 Responder

    Ótimo texto, capta muito bem a sensação de desolação que todos nós estamos sentindo neste momento tão trágico, em plena crise estrutural do capitalismo, seguimos mergulhados numa pandemia que nos faz sentir o gosto e o cheiro da morte. Parabéns pela sensibilidade e expressividade!

Post a new comment

Veja:

Acordei pensando aqui

  Acordei pensando aqui… Será mesmo que eles acreditam que nossas teorias são apenas militantes? Mesmo com tantas bells, Lélias e Angêlas por aí…? Com ...