Quando o silêncio fala

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Estela Sokol nasceu em São Paulo em 1979, e iniciou seus estudos e produções em gravura, partindo depois para a escultura. O trabalho da artista reflete a busca por um novo raciocínio pictórico da escultura, e para isto, diferentes técnicas e materiais são combinados e somados à luz e à cor para criar elementos de impacto na paisagem. As obras de Estela são descritas como parte de uma herança artística advinda do construtivismo brasileiro surgido na década de 1950. Tendo sua origem dentre as últimas vanguardas mais importantes do século XX, o construtivismo na arte se iniciou na Rússia em meados de 1915, e ganhou força após a Revolução Russa – passando a ser frequentemente atribuído à cena política do país, sobretudo ao comunismo. O declínio do estilo ocorreu também devido à sua aproximação com a política e a desaprovação ao governo russo vigente. No Brasil, o construtivismo teria grande impacto, inspirando os artistas que mais à frente atuariam no movimento concretista, já na década de 1960.

O construtivismo brasileiro, cujas raízes se encontram mais nítidas no concretismo, surge em meio às medidas modernizadoras implementadas por Juscelino Kubitschek, e tem como epicentro a capital de São Paulo. A ideia central do construtivismo na arte é a opor-se à arte pela estética, criando obras em que a técnica e o espaço ganhassem mais destaque e conferissem à obra de arte uma função ou papel social; alguns aspectos carcaterísticos do estilo são a presença de formas geométricas e de cores primárias e/ou vibrantes. A arte construtivista também está associdada à racionalidade, trabalhando não o discurso, mas o silêncio da presença das formas criadas. Assim, há na arte construtiva uma intenção de questionar acerca de novos entendimentos da realidade, como trará o texto de apresentação da artista para a AM Galeria, em Belo Horizonte. Estela realizou grande número de exposições nacionais e internacionais, individuais e coletivas.

Realizada na neve dos Alpes Austríacos em 2011, a série Polarlicht, de Estela Sokol, tem na neve a sua principal comunicadora. Fruto da residência artística realizada na Áustria, a série faz parte dos inúmeros  trabalhos em land art – que cconsistem em intervenções na natureza. Peças fosforescentes de látex, acrílico e PVC foram alocadas para criar diferentes formas e perspectivas acerca da paisagem. As fotografias das intervenções foram impressas em metacrilato, sendo posteriormente apresentadas na Gallery 32 em Londres, Inglaterra. Além de Polarlicht e da temática paisagística natural, a artista também se dedica à pesquisa e concepção de obras – em sua maioria, pinturas e esculturas, que dialogam e questionam acerca de outros espaços, como a cidade, e de temáticas específicas, como o corpo feminino na escultura. A exposição coletiva O muro: rever o rumo, de 2016, trouxe em pauta as relação de poder, controle e liberdade com as quais nos deparamos diariamente. Já em Moldes, o foco é a figura feminina na linguagem artística da escultura; aqui, Estela Sokol dividiu a experiência com outras 14 artistas, e a inspiração para os debates foi a pequena escultura milenar Vênus de Willendorf, cuja iconografia enaltece a ancestralidade, fertilidade e a prosperidade então ligadas à figura da mulher.

Pensar o espaço, o tempo e o próprio corpo como lugares de construção – e desconstrução – exige a paciência para que se pense antes qual a nossa atual relação com estes elementos. Me dei ao direito de não responder em várias situações ao longo da semana. Fácil? Não, não é algo que costumo fazer. Mas precisei decidir entre levar à diante conversas desnecessárias e manter o silêncio, pra não acabar com o dia. Deixar passar, respirar. A arte de Estela já havia me chamado a atenção faz tempos; tendo a deixar que a arte me ensine o que preciso aprender por mim mesma, e pra isso costumo trabalhar a sensibilidade com relação a temas e técnicas diferentes. Retomando as obras da série Polarlicht percebi que a paisagem, nas obras de Estela, não existem, apenas: a poesia da interveção está na sutil comunicação estabelecida com o espectador. O silêncio declama a própria poesia através da presença da cor e da luz.

 

 

 


REFERÊNCIAS

Estela Sokol. In: AM Galeria. Acesso em 11 de setembro de 2022. Disponível em: https://amgaleria.com.br/artista/estela-sokol/

Estela Sokol. In: Fotografia Contemporânea. Acesso em 11 de setembro de 2022. Disponível em: http://fotocontemporanea.blogspot.com/2011/08/estela-sokol.html

Estela Sokol In: Prêmio Pipa – A janela para a arte contemporânea brasileira. Acesso em 11 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/estela-sokol/

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução. Polarlicht series. In: Estela Sokol – Prêmio Pipa: A janela para a arte contemporânea brasileira. Acesso em 11 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/estela-sokol/

 

 

 

SOBRE A AUTORA

Paula de Souza Ribeiro

Mestra em História pela Universidade Federal de Ouro Preto na linha de pesquisa Poder, Linguagens e Instituições. Graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Membra do Grupo de Pesquisa Justiça, Administração e Luta Social - JALS, sediado na UFOP. Ênfase de atuação nas áreas de História da Arte, História do Brasil Imperial, Musicologia, Curadoria e Patrimônio Cultural.

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