RESÍDUOS  

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Depois que sua voz se calou

Restaram-me os ecos mudos

De palavras transparentes, congeladas

Palavras não ditas, imaginadas, palavras que você diria

Restaram-me os sons abafados de velhas conversas amolecidas

Restaram-me fragmentos do seu sorriso dissolvidos dentro do fluido cósmico

Depois que seu corpo se desintegrou

Restou-me o seu espaço no lado da cama

Onde agora me deito e me aconchego no seu abraço anímico

E adormeço ansiando por voos emancipatórios e passeios oníricos

Restaram-me os vãos infinitos da casa onde caminho feito um animal cego

Restaram-me questionamentos sobre a natureza dos sólidos, dos líquidos e dos gases

O poeta disse que fica sempre um pouco de tudo

Às vezes um botão. Às vezes um rato

Às vezes, o que fica é tudo.

 

 

 


Créditos na imagem: Reprodução: Como lidar com a dor da perda? — Foto: Banco e Imagens- G1.

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Luciano Alberto De Castro

Luciano Alberto de Castro é mineiro de Teófilo Otoni, cruzeirense, dentista e professor da Universidade Federal de Goiás. Mora em Goiânia. Paralelamente à docência, dedica-se à música e literatura, atuando como compositor, cronista, contista e poeta. O autor se considera um apaixonado pelas várias formas de arte, pela história do Brasil, pelas plantas e passarinhos. Colabora para várias revistas, sites e jornais brasileiros e internacionais. É um dos autores do Coletânea Clube dos Escritores publicado pela e-Galáxia em 2021. O primeiro livro solo Os óculos do poeta, uma coletânea de 50 crônicas, foi publicado em 2023 pela editora Kotter.

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