Desde seu início o Materialismo Histórico tem exercido uma influência significativa na historiografia, especialmente na análise das relações sociais e econômicas. Desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, a teoria assume que as condições materiais, incluindo a produção e a propriedade dos meios de produção, são as principais influências na vida social, política e cultural das pessoas.

Após a morte de Marx, o sistema explanatório do materialismo histórico foi expandido e refinado por diversos estudos acadêmicos, desempenhando um papel fundamental para historiografia. Ao destacar a importância das condições materiais e econômicas na evolução da sociedade, a teoria tornou-se uma importante ferramenta para compreender como as relações sociais e econômicas influenciam a vida política, social e cultural das pessoas. A partir da luta de classes como um fator fundamental na evolução da sociedade, o materialismo histórico é capaz de incentivar ainda hoje uma análise crítica da história, permitindo que os historiadores questionem as narrativas dominantes e identifiquem as tensões sociais e econômicas subjacentes.

Foi pensando em como a teoria pode contribuir para compreender as transformações sociais e a história humana ao longo do tempo que preparamos esta lista com seis artigos sobre o materialismo histórico e suas abordagens historiográficas. Nessa bibliografia comentada, trazemos indicações de artigos da revista História da Historiografia fundamentais para vislumbrar a complexidade e as influências que a teoria continua a exercer na historiografia. Além de contribuir para a compreensão das transformações das relações políticas e ideológicas, os artigos reunidos são leituras que enfatizam também a necessidade de refletir sobre questões importantes direcionadas à luta de classes e à posição das minorias étnicas e dos grupos subalternos na sociedade.

Confira!

 

1) Texto, contexto y marco: una propuesta metodológica para el estudio del pensamiento político con una crítica a la lectura orientalista de Karl Marx

Víctor García Alemán

Nira Santana Montañez

Muitos estudos sobre o pensamento político tendem a subestimar a variedade, a complexidade e a heterogeneidade histórica. Buscando contornar esse problema, por meio de uma crítica à leitura orientalista de Marx, Víctor García Alemán e Nira Santana Montañez se propõem a apresentar uma proposta metodológica para o estudo da história do pensamento político.

O método apresentado no artigo leva em conta os textos, contextos e marcos em que as produções intelectuais dos autores foram criadas como critérios interpretativos. De acordo com Alemán e Montañez, esses três critérios informativos permitem analisar e interpretar o que os autores pretendiam transmitir com seus escritos. Para exemplificar, o artigo discute a visão do colonialismo em Karl Marx, comparando a metodologia proposta com a usada posteriormente pelo crítico literário Edward Said. A proposta metodológica apresentada visa, portanto, uma análise mais precisa e abrangente do pensamento político, levando em conta tanto o que os autores escreveram quanto as circunstâncias que influenciaram suas produções intelectuais.

 

2) El fin de la historia en Hegel y Marx

Israel Sanmartín Barros

A temática do “fim da história” tem sido objeto de ampla discussão nos últimos anos, na qual se destaca a relevância das construções teóricas de Hegel e Marx. A investigação empreendida por Israel Sanmartín Barros se concentra precisamente na abordagem crítica e aprofundada dos conceitos elaborados por esses filósofos em relação ao tema, tendo como ponto de partida as controvérsias e perspectivas emergentes nos debates contemporâneos.

O objetivo do artigo é mostrar quais “fins” de história apresentam Hegel e Marx e como eles se interligam. A fim de encontrar semelhanças e diferenças na arquitetura histórica e teórica dos conceitos apresentados, Barros utiliza a matriz de análise descritiva para localizar como e onde os dois autores expressam a ideia de fim da história. A pesquisa parte da premissa de que Hegel é o iniciador do conceito de fim da história, enquanto Marx seria seu continuador. Com base nessas considerações, o autor procura demonstrar como os conceitos de Hegel e em Marx se relacionam, mostrando que ambos apresentam ideias finalistas, mas com diferenças significativas em sua arquitetura teórica.

 

3) José Carlos Mariátegui, el materialismo histórico-dialéctico del Sumak Kawsay: entre la religión y el mito

César Miguel Ramos

José Carlos Mariátegui (1894-1930) foi um dos pensadores pioneiros do marxismo latino-americano no decorrer do século XX e exerce, ainda hoje, forte influência no âmbito do pensamento histórico e dialético. À luz desse contexto, o estudo proposto por César Miguel Ramos tem como objetivo aprofundar a compreensão acerca da vida e do pensamento de Mariátegui, assumindo como ponto de partida a análise crítica e a contextualização histórica de suas ideias.

O artigo se desenvolve a partir da relação de Mariátegui com o Sumak Kawsay, conceito andino que se relaciona com o coletivismo e a vida comunitária. A partir da crítica do escritor peruano ao conceito de progresso e à compreensão monolítica do sujeito histórico, Ramos mostra como o comunismo indígena articulou diferentes bases econômicas, políticas e estéticas em sua vida comunitária. O estudo apresenta assim uma abordagem da relação entre a tradição andina e o materialismo histórico-dialético, apontando para a importância que Mariátegui atribuiu ao pensamento crítico ocidental para a compreensão e transformação das sociedades latino-americanas.

 

4) Nikolai G. Tchernichévski: contribuição à filosofia da história na Rússia do século XIX

Camilo José Teixeira Lima Domingues

Nikolai G. Tchernichévski (1828-1889) foi um importante escritor e jornalista russo do século XIX, responsável por assimilar e difundir ideias do debate filosófico europeu, do socialismo francês e do liberalismo econômico clássico inglês. Por meio das relações estabelecidas com a geração russa dos anos 1860, o artigo de Camilo José Teixeira Lima Domingues tem como objetivo analisar as contribuições de Tchernichévski para a filosofia da história.

O estudo é baseado na análise de três obras filosóficas de Tchernichévski: “O princípio antropológico na filosofia”, “O caráter do conhecimento humano” e “As relações estéticas da arte com a realidade”. A partir dessas obras, o autor discute o debate filosófico acerca dos postulados das ciências exatas e ciências morais, a concepção de desenvolvimento histórico de Tchernichévski e a história como representação. Domingues destaca a forte influência da filosofia de Feuerbach na obra de Tchernichévski e elabora um esboço de uma possível filosofia da história tchernichevskiana. Com isso, o artigo busca contribuir para o estudo da filosofia da história na Rússia do século XIX e para o reconhecimento da importância das contribuições de Tchernichévski nesse campo.

 

5) Gramsci para historiadores

Ricardo Salles

Para Antonio Gramsci, pensador e revolucionário italiano, a filosofia da práxis se caracterizava como um historicismo absoluto ou realista. É partir desses conceitos que o artigo de Ricardo Salles busca apresentar as reflexões de Gramsci como um trabalho teórico que se ocupa fundamentalmente da história e da prática dos historiadores.

Com o objetivo de demonstrar como os conceitos gramscianos foram elaborados, o artigo se debruça sobre a análise de situações e épocas históricas determinadas. Voltado notadamente à Itália do século XIX e à Europa moderna, Salles procura mostrar como Gramsci se colocou em oposição a dois adversários: o mecanicismo determinista, predominante na tradição marxista da Internacional Comunista, e o idealismo filosófico e historiográfico. Ao recorrer às oposições e às influências que cercearam o pensamento gramsciano, o artigo busca ressaltar a importância da obra de Gramsci para os historiadores e para o entendimento da história como uma prática social e política em constante transformação.

 

6) A oficina do fragmento Método e processo historiográfico em Walter Benjamin

Jorge Ramos do Ó

Tomás Vallera

Foram arriscadas e corajosas as posições teóricas que Walter Benjamin tomou face à academia e a uma certa ortodoxia marxista do tempo. É com base nesses posicionamentos epistemológicos que Jorge Ramos do Ó e Tomás Vallera buscam analisar a prática historiográfica benjaminiana, caracterizada pelo fragmentarismo construtivo.

O estudo explora a relação entre a condição de Benjamin como investigador-arquivista e seu destino pessoal com a prática experimental e radical que marca sua obra. Os autores mostram como o método de Benjamin resulta em um saber histórico reticular, constelacional e monadológico, que busca desvincular as imagens do passado da continuidade da história universal. Ao apresentar os elementos metodológicos que compõem sua abordagem e discutir o confronto benjaminiano com as exigências teóricas do materialismo dialético, Ramos e Vallera destacam a defesa que Benjamin faz da figura do autor-produtor, mostrando como ela assume o papel de arauto de um tempo futuro em que o texto seria um “bem comum”.

 

 

 

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