O surgimento e a facilitação de acesso a dispositivos tecnológicos possibilitam, cada vez mais, novas experiências e maneiras de comunicação.  É já explícito o fenômeno das mídias e seu potencial para atuar na política, na economia, na cultura e também na educação.[1] Nesse cenário de constante renovação tecnológica, no qual as formas com que os sujeitos buscam as informações e os meios para acessá-las são ressignificados a todo instante, é de se esperar que surjam novas maneiras de estabelecer o contato entre locutores e interlocutores. Tendo em vista a dinamicidade dos tempos atuais, não é de se surpreender que tal processo possa ocorrer por meio de produções que permitam um acesso mais rápido, cômodo e até divertido a determinados conteúdos. Ao percebermos isso, fica mais evidente o papel que a internet, enquanto um dos maiores símbolos dos avanços tecnológicos no que tange à comunicação, é capaz de exercer na facilitação de proliferação das informações.[2]

É diante dessa ótica que o surgimento de páginas que disseminam informações rápidas/ou cômodas pelas redes sociais são capazes de potencializarem o contato que os indivíduos têm com determinados temas. Um dos mecanismos mais simples utilizados por páginas que possuem tal intuito são os memes que mesmo sendo vistos, na maioria das vezes, como representações simplistas devido à sua capacidade de ser compartilhado rapidamente, acabam por expandir a mensagem que ele carrega, o que pode ser utilizado como instrumento capaz de instigar a curiosidade daqueles que tem contato com esse conteúdo. Dessa forma, os memes reforçam a ideia de uma “inteligência coletiva”, fenômeno caracterizado pelo compartilhamento de conhecimento por parte dos indivíduos e que na web 2.0 ganha proporções extraordinárias, uma vez que o público também exerce um impacto muito mais contundente no processo de distribuição e, até mesmo, de criação daquilo que é repassado.[3]

Antes de mais nada, ao falarmos sobre os memes, devemos ter em mente que tal “conceito” foi utilizado, a princípio, dentro de uma lógica biológica com o intuito de descrever o processo de replicação e reprodução de genes, quando, em 1976, Richard Dawkins se apropriou do termo “mimema”, que em grego confere sentido a tudo aquilo que pode ser imitado. Contudo, esse processo também dizia respeito à transmissão de informações decorrente desse fenômeno. Tal nomenclatura (memes) se encaixou bem quando foi pensada uma maneira de descrever como determinadas informações se proliferavam pela rede mundial de computadores. Ademais, embora não se tenha exata certeza de quando a palavra “meme” foi utilizada pela primeira vez para nomear algo muito compartilhado pelos usuários de redes sociais, certo é que essa passou a ser a forma mais comum de nomear imagens, áudios, vídeos e demais mídias que atingem um grande alcance de maneira rápida e “simples” no ciberespaço.[4]

Ainda que, no geral, os memes sirvam unicamente para promover instantes de diversão e humor, nada impede que esses objetivos venham acompanhados por algum tipo de mensagem “produtiva”, como um conhecimento específico ou algum estímulo ao pensamento crítico. Um bom exemplo disso é a página História no Paint, que utiliza desse mecanismo para divulgar o conhecimento histórico e estimular o estudo dessa disciplina.

 

Fonte: Página História no Paint do Twitter.
Fonte: Página História no Paint do Twitter.

 

A conta do História no Paint no Twitter, criada em 2013, só passou a ser utilizada com fins de divulgação científica em 2018, quando também foi criado um perfil no Instagram com o mesmo objetivo. Atualmente, somadas, as contas possuem mais de 500 mil inscritos e milhões de compartilhamentos de suas imagens e pequenos textos. Esse número enorme de compartilhamentos demonstra o potencial de divulgação e disseminação que os memes possuem. A página também serve de exemplo se observarmos a interação dos usuários com o criador e moderador da página, pois ao verem esses fragmentos de informação, buscam entrar em contato com intuito de tirar dúvidas, obter mais informações sobre o tema e, até mesmo, sobre a graduação em História, curso no qual o gerenciador, Leandro Marin, está inscrito pela UFRRJ.

 

Fonte: Página História no Paint do Twitter.
Fonte: Página História no Paint do Twitter.

 

Outro ponto importante é que a busca por novas informações oriundas do contato com os memes acabou por incentivar o dono da página a pensar numa maneira mais “completa” de compartilhar o conteúdo. Foi assim que surgiu o Podcast “História no Cast”, no qual junto com alguns amigos, Leandro estabelece um bate-papo com professores especialistas em determinadas áreas das ciências humanas, complementando, assim, as mensagens, a princípio, “simplórias” dos memes que são elaborados para a página.

Essas produções não se limitam a alcançar apenas os estudantes, uma vez que até os próprios professores “descobriram” o quanto essa ferramenta pode ser enriquecedora para suas aulas, pois esses mesmos jovens, presentes nas escolas e que seguem as diretrizes institucionais, também estão na internet, produzindo e reproduzindo conteúdo constantemente, o que acaba por enriquecer sua formação de alguma maneira.[5] É por isso que acreditamos que pode ser um prejuízo pedagógico ignorar o papel e a potência instigadora que páginas como o História no Paint e outras possuem no processo de formação do conhecimento histórico.

 

Fonte: Página História no Paint do Twitter.
Fonte: Página História no Paint do Twitter.

 

Observando o quanto a página interfere no processo de formação dos sujeitos, seja direta ou indiretamente, fica um pouco mais evidente o papel que a internet e as redes sociais vêm exercendo na maneira com que o conhecimento é disseminado e, consequentemente, como interfere na educação dos indivíduos. Assim, acreditamos ser importante que os profissionais ligados a essa área se mantivessem antenados com relação ao conhecimento produzido, disseminado e consumido nesses novos contextos. Esses profissionais poderiam se tornar cada vez mais capazes de trabalhar em conjunto com os produtores de conteúdo sem ignorar a realidade dos alunos, na qual o consumo dessas mídias está consideravelmente atrelado e já é uma realidade.

 

 

 


REFERÊNCIAS

DUDZIAK, Elisabeth Adriana; FERREIRA, Sueli Mara Soares Pinto; FERRARI, Adriana Cybele. Competência Informacional e Midiática: uma revisão dos principais marcos políticos expressos por declarações e documentos Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. São Paulo, v. 13, n. especial, p. 213-253, jan./jul. 2017.

GUERREIRO, Anderson; SOARES, Neiva Maria. Os memes vão além do humor: a leitura multimodal para construção de sentidos. Texto Digital, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 12, n. 2, p. 185-208, jul./dez. 2016.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

JENKINS, Henry; GREEN, Joshua; FORD, Sam. Cultura da conexão. São Paulo: Aleph, 2014.

SOUZA, Maria Alice de. Memes de internet e educação: uma sequência didática para as aulas de história e língua portuguesa Periferia, v. 11, n. 1, p. 193-213, jan./abr. 2019.

 

 

 


NOTAS

[1] DUDZIAK, Elisabeth Adriana; FERREIRA, Sueli Mara Soares Pinto; FERRARI, Adriana Cybele. Competência Informacional e Midiática: uma revisão dos principais marcos políticos expressos por declarações e documentos Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. São Paulo, v. 13, n. especial, p. 213-253, jan./jul. 2017.

[2] JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

[3]  JENKINS, Henry; GREEN, Joshua; FORD, Sam. Cultura da conexão. São Paulo: Aleph, 2014

[4] GUERREIRO, Anderson; SOARES, Neiva Maria. Os memes vão além do humor: a leitura multimodal para construção de sentidos. Texto Digital, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 12, n. 2, p. 185-208, jul./dez. 2016.

[5] SOUZA, Maria Alice de. Memes de internet e educação: uma sequência didática para as aulas de história e língua portuguesa Periferia, v. 11, n. 1, p. 193-213, jan./abr. 2019.

 

 

 


Créditos na imagem: Meia Hora / Reprodução disponível em: https://www.meiahora.com.br/geral/baixada/2019/12/5839290-aprender-rindo–morador-da-baixada-descomplica-historia-com-memes.html#foto=1

 

 

 

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