Precisamos entender que os esforços para ampliar a democracia não se confundem com os impulsos para destruí-la; e há quem confunda.

 

É triste pensar: os impulsos que atentam contra a democracia são mais aceitos que as iniciativas que buscam ampliá-la. Dois exemplos nos ajudam a pensar, embora tenham contornos totalmente distintos: as manifestações de 2013 no Brasil e a invasão do Capitólio, nos EUA. Infelizmente devemos aceitar que a democracia se abre a abusos e retrocessos enquanto se fecha para avanços e crescimentos.

As manifestações de 2013, que tomaram as cidades brasileiras, ainda são um ponto de inflexão. A esquerda não conseguiu captar a singularidade do momento e não raro culpa tal movimento pelo crescimento do reacionarismo nos últimos anos. Grande engano: o que aconteceu em 2013 foi uma singular oportunidade de pautar as discussões políticas em torno de avanços sociais e ampliação de direitos. Havia um clamor da sociedade: mais direitos e mais participação nas decisões políticas. De fato, não era por alguns centavos. Entretanto, a esquerda buscou nas instituições abrigo seguro. Pois bem, entregamos a pauta política nas mãos da direita. Há um erro persistente na esquerda brasileira: confundir democracia com institucionalidade.

Agora, em uma situação trágica em todo o mundo, o país que é geralmente tomado como modelo de democracia, os EUA, passa pela sua maior crise recente: Trump não reconhece a derrota nas urnas e manifestantes, incentivados por ele, invadem o congresso americano. Imaginem se os manifestantes que reivindicavam que vidas pretas importam fizessem o mesmo! A tolerância foi infinitamente maior com os fascistas que usam da violência para impor seus ideais reacionários. Repito: confundir democracia com institucionalidade tem seu preço. E é um preço bem alto.

Nada diverso no Brasil: ações que limitam direitos são louvadas em esquinas e outdoors. A lava-jato, o maior projeto de perseguição e criminalização da política na história recente do país, virou tendência ideológica – o lavajatismo – uma perigosa união de reacionarismo, antipolítica e sectarismo. O resultado foi Bolsonaro, que com seu autoritarismo assombra a vida dos brasileiros. Retirar direitos e perseguir os pensam diferente deixou de ser crime, virou algo justificável e, mais que isso, recomendável.

A democracia definha. Os dispositivos que deveriam protegê-la só servem para enfraquecê-la. Enquanto isso, “as instituições continuam funcionando”. Não me pergunto mais como democracias morrem e sim como ainda acreditamos que ela tenha, um dia, vivido. A institucionalidade, com seus ritos e jargões, esconde a nefasta situação do Brasil. O “monopólio da força” é usado com pesos diferentes: massacra quem quer ampliar e amadurecer a democracia, protege quem quer destruí-la. A democracia não está em vertigem. Resta perguntar se ela não é somente uma vertigem.

 

 

 


Créditos na imagem: reprodução. Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/invasao-ao-capitolio-policiais-e-bombeiros-serao-investigados-10012021

 

 

 


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