para Glória Oliveira
Ouvir música por meio de rádio é uma experiência muito diferente de ouvir nas novas plataformas. Mesmo que o rádio seja via internet coisa e tal.
Digo da surpresa de ouvir uma música após a outra que, ainda que se escolha gênero, época, escola musical, não se sabe o que virá em sequência.
Outro dia, me lembrei da tia que, na cozinha, fazia suas tarefas domésticas ouvindo rádio, mas era programa desses de conselhos.
Eu ouvi por anos jogos de futebol pelo rádio. Ainda ouço, às vezes. Hoje tem jogo. Vou ouvir? Faça, leitor, sua aposta.
Ouço podcast na minha cozinha, no banheiro, no meu quarto. E, músicas em plataformas várias pela internet.
Faço isso, lavando louça, com o almoço pronto me esperando e o pão integral já na máquina de fazer pães.
Ouvi rádio hoje. Músicas de uma seleção aleatória. Umas músicas melhores do que outras. Umas músicas piores do que outras. Músicas.
O gostoso disso, e do cheiro do frango assado que preparei para almoçar, eram as músicas inesperadas, por mim as mais gostadas.
É isso outra experiência de tempo, de oitiva.
Almocei com o rádio desligado, sozinho. Enquanto isso, eu ia pensando que vou escrever uma história. A princípio, de dois homens. Com o tempo um menino. Assim uma espécie de Du, Edu e Dudu.
Para não dar spoiler, digo apenas que a história já tem um nome. Um dos homens, ou um dos meninos, terá nome duplo, composto do nome dos dois homens.
Enquanto eu pensava, ia escutando meu pensamento. Uma ideia se formou.
Eu vivo uma história. Escrevo uma história.
E, de qual história estou falando? Ser de Gêmeos tem disso. E, namorar gêmeos também, certamente.
Eu sou dois. E namoro dois. Ainda que seja um. Ainda que sejam quatro, são dois.
Não bebi nada alcoólico no almoço, atento leitor, juro. E, se tinha azul na manhã de inverno, muito azul em torno dele, estou vestido de cinza e preto. E, a camiseta que uso, em setembro, faz 10 anos que a comprei. Ela é de uma flanela leve e de boa espécie. Tem uma história sem homens, nem meninos. Aquece-me há muito.
Quando terminei, o almoço o pão crescia movido pelo fermento e pelo aquecimento da máquina.
Liguei o rádio novamente e escrevo este texto. Ele é uma fermentação e um aquecimento de algo que preciso estudar para reescrever um artigo.
Às vezes, mesmo estando tudo certo, eu desanimo na escrita acadêmica. Artigo aceito, mas com ressalvas. Serão atendidos os pedidos dos pares, dos pareceristas.
Para isso, desligo o rádio para ver e ouvir o outro.
Ele é estilo. Ele é o ouvido.
O engraçado é ir buscar outras referências sobre os objetos do artigo e dar de cara com a gente mesmo. É o momento em que pode até haver um ou outro trabalho, um viés etc., que não seja o seu falando daquilo, mas o que você falou está citado nos trabalhos que os pares pediram para serem incluídos.
Eu me finjo de morto. Anônimo e em silêncio, sigo.
Nessas horas, não há rádio. E, as surpresas são as confirmações do que digo.
Créditos na imagem: Reprodução: Imagem do artista plástico Carlos Madeira, Conheça Minas. Disponível em: https://www.conhecaminas.com/2018/01/radinho-de-pilha.html
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Eduardo Sinkevisque
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