O mais recente livro de poemas de Leonel Delana Júnior, Da botânica e gênese de um elegante chipanzé de dedos longos (Patuá, 2023), é de uma poesia sutil, que me fez lembrar de “algo me diz para ser sutil”.
As imagens poéticas e a composição dos poemas me sugeriram entrar devagar, aos poucos e com cuidado.
O nome do livro poderia inclinar o pensamento ao selvagem, à fera, no limite para uma poesia feroz, incivilizada, ancestral.
Que nada!
Poesia toda permeada de delicadezas, de tristezas, de melancolias e de construção.
Muitos dos poemas se constroem visualmente, próximos a tendências concretas, concretistas, semióticas.
Devo dizer que prefiro os poemas assentados no verbo, poemas não necessariamente visuais, poemas cujo código verbal é o centro e não a explosão do verso, ou a multiplicação dele em combinações variadas, para não dizer infinitas.
De todo modo, li os poemas de Da botânica e gênese de um elegante chipanzé de dedos longos em chave brevitas, lacunar, às vezes, poemas elípticos, sintéticos, condensados. Não os penso como sentenciosos, epifonemáticos, mas há frases que beiram às máximas.
Os textos se espalham na mancha da edição como ramas, ramagens, mesmo sendo poemas-animal e de dedos longos. São poemas sob a marca do rizoma. Ou seja, possuem direções movediças, ficam sempre no meio, podem ter várias entradas e saídas. A qualquer momento o significado deles pulam, como chipanzé, ramificações, agenciamentos, que podem ser instaurados no momento da leitura.
São poemas críticos, de tom levemente político. Digo levemente para contrapor ao que se poderia dizer (e esperar) ostensivamente político.
“Algo me diz para ser sutil”. É a sutileza política presente nos textos do livro mais recente de Leonel Delana Júnior.
Surpreendente, e aí penso que o chipanzé surge da mata, ou é desengaiolado, abre as grades e mostra os dentes, é haver no miolo do livro um “livro vivo”, um prefácio-posfácio, não prefácio, não posfácio.
Os poemas Da botânica e gênese de um elegante chipanzé de dedos longos me levaram ao término da leitura, como diálogo, a escrever um poema, que dedico ao autor do chipanzé, ainda que macaco vegetal, botânico e de gênese animal apenas como metáfora.
Talvez, e aí arrisco totalmente, o chipanzé seja o animal que Leonel Delana Júnior logo é.
Para finalizar, eis o poema motivado pela leitura de Da botânica e gênese de um elegante chipanzé de dedos longos:
Frente à realidade
ainda que realidade
seja aquilo que se
desenha
de passagem
de ar a
estreitar-se
as sobrancelhas
crescem
as orelhas
crescem
e na lista do pôr
as coisas em dia
acumulam-se
não apenas os anos
dedos longos dos macacos
os abraços
antes das pelejas
Frente à realidade
mesmo realidade forjada
a filosofia é pouca
A pintura evidencia-se
às vistas
a respiração ventila
Créditos na imagem: Capa do livro da botânica e gênese de um elegante chimpanzé de dedos longos. Disponível em: https://www.editorapatua.com.br/da-botanica-e-genese-de-um-elegante-chimpanze-de-dedos-longos–poemas-de-leonel-delalana-junior
Eduardo Sinkevisque
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