Para João Cabral de Melo Neto

 

Tua poesia é sendeiro desconforme 

Construído pedra a pedra 

Cada palavra-pedra que escolhes 

Do teu veio particular 

É um tipo de pedra-feijão 

Grão pesado que afunda no alguidar 

Não queres a pedra solta, aleatória 

Mas a pedra calculada, meritória 

Não queres a pedra rotunda, burilada 

Mas a pedra quebrada e assentada com jeito  

Sempre metódico, nunca melódico 

Preferes o martelinho ao buril 

E assim bem dispostas 

Todas encontram seu leito 

A pedra rugosa, de borda cortante 

Incômoda, lancinante 

Pedra de açúcar, pedra de sal 

Arenito, lama, sisal 

Pedra nordestina, pernambucana 

Pedra severina, seca, graciliana 

 

Escreveste caminho pedregoso: matéria, rocha e algaravia  

Cunhaste na poesia brasileira morte, vida e maestria. 

 

 

 


Créditos na imagem: Divulgação. Foto: Bob Wolfenson

 

 

 

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