Gil 78 e a dose de fé que o Brasil necessita

0

 

 “Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão”

São João, Xangô Menino – Caetano Veloso e Gilberto Gil

 

Sexta-feira, 26 de junho de 2020, dia do aniversário de 78 anos de Gilberto Passos Gil Moreira, popularmente conhecido como Gilberto Gil. O Brasil em meio ao caos pandêmico, festeja os seus quase oitenta anos de história, política, música e, sobretudo, um legado de resistência e luta diante ao regime civil-militar de 1964. Festejar Gilberto Gil, como colocado pela cantora Teresa Cristina, a rainha das lives musicais do Instagram, é festejar o grande orixá brasileiro.

Celebrar Gil também é comemorar o Brasil que lhe é cantado: preto, branco e indígena. Mas também africano, latinoamericano e jamaicano. Ele consegue se debruçar com maestria diante das palavras, canções e melodias. Gil consegue unir em sua voz toda uma musicalidade vinda de forma ancestral e global, reunindo em seu ser a presença de Oxóssi, Xangô, Gandhy e São João.

Diante da pandemia, do caos político instaurado e do desprezo à cultura popular brasileira num todo, Gil, realizou uma live em seu canal do YouTube com um amplo repertório de forró, baião e xaxado. Celebrando junto de seu dia a riqueza musical presente nos solos nordestinos desse Brasil cruelmente machucado pela necropolítica bolsonarista. Nos lembra um país que já sorriu e que já teve apreço pela sua vasta cultura que foi vista e ouvida pelos quatro cantos do mundo durante o período em que foi Ministro da Cultura (2003-2008).

Um dos pontos preciosos dessa sexta-feira de Gilberto foi o vídeo especial de aniversário com a canção “Andar com fé” contando com a presença isolada e via internet, de artistas como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Fernanda Montenegro, Chico Buarque, Alcione, Jorge Ben e mais uma infinidade de personalidades, além da presença de seus familiares, sua esposa Flora Gil, seus filhos, netos e bisneta.

 

“A fé ‘tá na maré
Na lâmina de um punhal
Oh oh
Na luz, na escuridão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá olêlê
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá”

Andar com fé – Gilberto Gil

 

Essa reunião e representação afetuosa para um mestre musical tão importante quanto Gil, diante da distância nos deixa acalentados e com o coração aquecido, uma vez que nos encontramos tão distantes dos braços e abraços que sempre tivemos por perto. Esse abraço coletivo no aniversariante e no grande orixá do Brasil, nos faz lembrar na sua forma mais intensa, a mensagem de sua canção: a fé e suas diversas formas está em todos os lugares, na morte, na vida, na solidão. A fé é aquela pontinha de crença em qualquer coisa que precisamos ter mesmo que não se acredite, ela é capaz de abalar o mais religioso ao mais ateu, como diria Caetano Veloso em sua canção Milagres do Povo, “quem é ateu e viu milagres como eu”, se referindo à Jorge Amado e a sua presença no terreiro de candomblé Mãe Menininha do Gantois.

A fé está em tudo mesmo que ela não esteja. A fé é Gilberto Gil.

 

 

 


Créditos na imagem: Foto: Reprodução.

 

 

 

SOBRE A AUTORA

Larissa Vitória Ivo

Graduada em História pela Universidade Federal de Ouro Preto e mestranda no Programa de Pós-graduação em História (PPGHIS/UFOP) onde integra a linha de pesquisa 1: Poder, Espaço e Sociedade, desenvolvendo pesquisa acerca das políticas de memória dos antigos centros de tortura no Brasil. É professora de Filosofia e Ciências Humanas do Estado de Minas Gerais. Atua na assessoria editorial do portal de Humanidades HH Magazine e é membro do Núcleo de Estudos em História da Historiografia e Modernidade (NEHM/UFOP).

No comments

Veja: