Meninos

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Eram cinco pequenas criaturas, tão definhadas pela fome que mal pareciam suricatos, descalços ferviam os finos pés em terra quente, pequenas crianças cuja secura lhes davam nomes esqueléticos, (pobres caveirinhas).

Papai e mamãe haviam seguido viagem há tempos, acompanhados ao dia pelo grande vermelho e a noite velados, apenas, pela branca íris dos céus, esta era imensa e os olhos não ardiam ao olhá-la, o vermelho tinha vergonha de sua nudez e queimava os olhos de quem ousasse espiá-lo. ( que fome, sede, que seco).

Em horas no trabalho penseiro… E se aquela grande íris fosse Deus?

_ Se fosse mesmo, papai e mamãe haviam voltado. Não era. ( talvez se eu morresse agora iria para o inferno por isso?).

A Fome causa delírios e a sede soterra a boca de tanta secura. SECURA! Era tão mansa com aquele sininho ao pescoço a badalar e dois enormes ossos da anca que apontavam no couro seco quase se encontrando, a vaca era definhada pela fome e mal parecia uma ossada viva, mas mesmo assim… (sopa de ossos).

Terra quebrada, parecia um quebra-cabeça tamanho família, ou melhor, tamanho mundial. Tão bonito de ver e doloroso, o vermelho torrava os calcanhares, infernais estados, pobres suricatos pobres.

Ó Deus, nós dissera que teus filhos hão de comer do pão! Dá-lhes pão… E deu, deu-lhes a secura na terra, nós pés queimados, na boca e no jantar: SECURA, mas a fome matou. E os cincos definhados foram à cama rindo de satisfação e de lembrança do sininho a badalar antes nos secos pastos e agora em estômago há tempos famintos.

 

 

 


Créditos na imagem: Children Playing (Charles Blackman).

 

 

 

SOBRE O AUTOR

Phablo Alves Vieira

Chamo-me Phablo Vieira tenho 19 anos e sou estudante de Jornalismo pela UFOP. Sempre admirei a arte de escrever, a poética envolvida e as críticas que podemos desenvolver constantemente. Sempre gostei de participar de atividades literárias, de debates, enfim dessa gama de diálogos que podem ser desenvolvidos e que conectam um indivíduo ao outro e que carregam reflexões e pontos de vistas diversos. Sou amante do Flâneur e gosto de observar o invisível que não deveria ser invisível. Gosto da filosofia do hoje, admiro a do ontem e por isso não me preocupo tanto com o amanhã.

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